Diferenças e Características da Fala e da Escrita: diferentes níveis de formalidade, organização e variação.
(conteúdo 5)
A Fala e a Escrita são duas modalidades
de uso da língua que se utilizam do mesmo sistema linguístico, mas têm suas
próprias peculiaridades. Isso não significa que uma é superior a outra.
Conforme Koch, (1997), alguns
autores a partir da década de 60 consideraram a dicotomia entre as modalidades
FALA e ESCRITA, atribuindo a cada uma características particulares. Koch
afirma que tais características refletiam uma visão preconceituosa e centrada
no modelo da escrita formal padrão. Veja as tabelas abaixo para maior entendimento
sobre a FALA e a ESCRITA:
FALA
|
ESCRITA
|
Contextualizada
|
Descontextualizada
|
Implícita
|
Explícita
|
Redundante
|
Condensada
|
Não-planejada
|
Planejada
|
Predominância
do “modus pragmático”
|
Predominância
do “modus sintático”
|
Fragmentada
|
Não-fragmentada
|
Incompleta
|
Completa
|
Pouco
elaborada
|
Elaborada
|
Pouca
densidade informacional
|
Densidade
informacional
|
Predominância
de frases curtas, simples e coordenadas.
|
Predominância
de frases complexas e subordinadas
|
Pequena
freqüência de passivas
|
Emprego
freqüente de passivas
|
Poucas
nominalizações
|
Abundância
em nominalizações
|
Menor
densidade lexical
|
Maior
densidade lexical
|
Em linhas gerais, é possível considerar
que essas características não são exclusivas nem de uma nem de outra modalidade
e que elas foram estabelecidas a partir dos parâmetros da escrita por visão
preconceituosa que discriminava a fala. É mister entender que a fala
possui características próprias:
1) não-planejável”. Ela precisa ser
apenas “localmente planejável”.
|
2) ela é o seu próprio rascunho (não
tem como passa-la a limpo, pois o que foi dito , não tem volta, apenas
reparação.
|
3) Descontinuidades frequentes no
fluxo discursivo,
|
4) Sintaxe característica
ligada, de certa forma, à sintaxe geral da língua.
|
5) Fala é processo, portanto, é
dinâmica.
|
O texto falado não é caótico, ele tem
uma estrutura própria que se pauta a partir de sua produção. É nesse sentido
que deve ser descrito e avaliado. No processo de produção do texto falado, os
interlocutores estão num mesmo tempo e espaço físico (salvo exceções como
telefone, rádio e outras possibilidades de conversação oral à distância que a
tecnologia oferece).
I. QUESTÃO DE REFERÊNCIA: na oralidade muitas vezes os referentes são recuperados no próprio contexto (basta apontar, por exemplo), dispensando assim que os falantes precisem explicitá-os sempre. Mas na escrita não é bem assim, pois por ser não-presencial há a necessidade de explicitar sempre os referentes, através das marcas lingüísticas.
II. REPETIÇÕES: no texto falado, a repetição é muito
freqüente, aliás ela é um dos seus mecanismos de organização, desempenhando
funções didáticas, sintáticas, argumentativas, enfáticas etc.
III. USO DE ORGANIZADORES TEXTUAIS: são continuadores tópicos da fala, por
exemplo: e, aí, daí, então, daí então etc: Os textos das crianças são ricos em
organizadores textuais típicos da oralidade.
IV. JUSTAPOSIÇÃO DE ENUNCIADOS SEM MARCA DE CONEXÃO EXPLÍCITA: é comum, nos textos, enunciados justapostos, sem elementos explícitos de conexão, ligação ou transição. O sujeito que está adquirindo a modalidade escrita, ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios dessa modalidade e mistura à escrita o padrão oral. Exemplo: “Entraram na gruta com lanterna primeiro foi o leão muitos tigres e onças depois foi milhares de cobras.
V. DISCURSO CITADO: o discurso citado é manifestado prioritariamente no estilo direto que o mais freqüente na oralidade, em geral, sem a presença de um verbo que introduza a fala do outro (fulana disse:, fulana resmungou:, fulana gritou:). O sujeito ainda não aprendeu os mecanismos seqüenciadores próprios da modalidade escrita e mistura a ela a estrutura mais típica da oral que é a que ele melhor conhece.
VI. SEGMENTAÇÃO GRÁFICA: também é comum que a segmentação gráfica, em textos de sujeitos iniciantes na modalidade escrita, seja feita em função do que ele ouve. É curioso notar que a criança, por vezes, tentando acertar a segmentação gráfica adequada, acaba dividindo no meio algumas palavras ou juntando outras numa só!
VII. GRAFIA CORRESPONDENTE À PALAVRA: ou seqüência de palavras tal como pronunciadas oralmente, isto é, reproduzindo o que a criança ouve.
VIII. CORREÇÕES FEITAS DA FORMA COMO SE FAZEM NO TEXTO ORAL: assim como na fala, o sujeito não apaga ou risca a forma que considera inadequada, mas justapõe a esta a forma corrigida.
I. Fala x escrita - a
perspectiva das dicotomias:
FALA
= contextual, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada.
ESCRITA
= descontextualizada, explícita, condensada, planejada, precisa, normatizada.
Para um resumo breve sobre LINGUAGEM ORAL e ESCRITA , o video abaixo é recomendado :
II. Oralidade x letramento ou fala x escrita:
ORALIDADE:
prática social apresentada sob várias formas ou gêneros textuais em sua
diversidade de uso formal e contextual.
|
FALA:
forma de produção discursivo-textual oral que dispensa um aparato técnico,
necessitando, apenas, dos recursos próprios ao ser humano.
|
LETRAMENTO:
uso social da escrita que vai de uma apropriação mínima da escrita até uma
utilização científica dela.
|
ESCRITA: tecnologia de
representação abstrata da fala e produção discursivo-textual com
especificidades próprias.
|
III. Oralidade e escrita no
contexto das práticas sociais: na
civilização contemporânea Marcuchi considera a relação entre “vida cotidiana” e
os fenômenos da fala e escrita. O texto seria, então, uma prática social e
não um artefato linguístico.
A escrita, enquanto
prática social, tornar-se-ia indispensável. Em relação ao uso da língua (fala e
escrita) as práticas sociais têm o seu lugar, papel e grau de relevância de
ambas as modalidades na sociedade – eixo de um “continuum” sócio-histórico-tipológico
e até morfológico.
Resumindo:
èHOMEM =
naturalmente um “ser que fala” e não um “ser que escreve” – a escrita é
derivada e a fala é primária.
èFALA = prática
social do dia-a-dia.
èESCRITA =
prática de um ambiente formal - escola (o que lhe confere prestígio).
A escrita permeia hoje
praticamente todas as práticas sociais das comunidades em que se insere sob a
forma de “letramento”. Os objetivos e ênfase do uso da escrita variam de acordo
com os contextos em que se inserem: a “apropriação / distribuição” da escrita e
da leitura (padrões de alfabetização), e os “usos / papéis” da escrita e da
leitura (processos de letramento). Mesmo as pessoas analfabetas também estão
sob a influência das estratégias da escrita em seu desempenho oral.
A escrita passou a ter um
“status” bastante singular no contexto das atividades cognitivas em geral.
Deve-se distinguir, então:
·LETRAMENTO:
processo de aprendizagem sócio-histórica da leitura e da escrita em contextos
informais e para usos utilitários.
·ALFABETIZAÇÃO:
domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
·ESCOLARIZAÇÃO:
prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação do indivíduo,
sendo que a alfabetização é apenas uma das atribuições/atividades. (cf
MARCUSCHI, 2007a).
Muitos são os usos de
oralidade e escrita em nossa sociedade os diferentes usos possibilitados através de diferentes mídias e
tecnologias, além da própria voz e do código escrito, põem em contato /
interação / dialogismo diferentes subjetividades, em diferentes espaços
sociais:
·homem/mulher
·pai/filho ·professor/aluno
·padre/fiel ( entre
outros)
A história do uso da
escrita e da alfabetização ocidental é descontínua e contraditória. A alfabetização instituída dá-se
de preferência sob o controle do estado, orientando-se por seus objetivos.
Assim a aquisição da escrita é um fenômeno “ideológizavel”. A fala é contínua
no dia-a-dia e a oralidade tem lugar em seus diferentes contextos e usos sociais.
V. Fala x escrita –
perspectiva variacionista: tal visão
trata do papel da escrita a partir dos processos educacionais e da variação na
relação língua padrão e não-padrão em contextos de ensino formal. Modelos
teóricos baseiam-se no “currículo bidialetal”. Não há dicotomias, verificam-se
as regularidades e variações:
*Língua padrão
|
*Variedade
não-padrão
|
*Língua culta
|
*Língua
coloquial
|
*Norma padrão
|
*Norma
não-padrão
|
Para Marcuschi fala e escrita
não são dialetos, mas “modalidades” de uso de língua. Nesse sentido o aluno se
tornaria “bimodal”.
VI. Oralidade x escrita – a
perspectiva interacional: esta
perspectiva trata das relações entre fala e escrita, considerando o “continuum”
textual. É a visão interacionista, cujos fundamentos baseiam-se em:
·Relação dialógica
no uso ·Estratégias de
linguagem
·Funções
interacionistas ·Envolvimento e
situacionalidade
·Formulaicidade
VII. Concepção e funcionamento
da língua – consequente relação fala / escrita:
A língua (seja oral ou
escrita) reflete a organização da sociedade, uma vez que se
relaciona com as “representações e as formações sociais”. Entretanto, a fala e
a escrita representam formas de organização da mente através das próprias
representações mentais.
***Atividade para demonstrar aos alunos na prática as diferenças entre a Linguagem Falada e Escrita.
1- O professor escolherá um um texto com relatos de um acontecimento do dia-a-dia. Como por exemplo a história de um dia ruim que alguém teve;
2- Serão escolhidos três alunos para essa demonstração;
3- A professora lê a história inteira para o aluno "A", enquanto os alunos "B" e "C" esperam do lado de fora;
4- Depois o aluno "A" sem ajuda do texto contará a história para o aluno "B", que depois fará o mesmo com o aluno "C".
5- Ao fim da atividade , com o aluno "C" recontando o que lhe foi passado , os outros alunos que acompanharam as três formas diferentes de contar a história verão as diferenças entre a língua falada e a escrita .
***Atividade para demonstrar aos alunos na prática as diferenças entre a Linguagem Falada e Escrita.
1- O professor escolherá um um texto com relatos de um acontecimento do dia-a-dia. Como por exemplo a história de um dia ruim que alguém teve;
2- Serão escolhidos três alunos para essa demonstração;
3- A professora lê a história inteira para o aluno "A", enquanto os alunos "B" e "C" esperam do lado de fora;
4- Depois o aluno "A" sem ajuda do texto contará a história para o aluno "B", que depois fará o mesmo com o aluno "C".
5- Ao fim da atividade , com o aluno "C" recontando o que lhe foi passado , os outros alunos que acompanharam as três formas diferentes de contar a história verão as diferenças entre a língua falada e a escrita .
REFERÊNCIAS:
KOCH, I. V. O Texto e a Construção dos Sentidos. São Paulo, Contexto, 1997, p.61-64.
MARCUSCHI, L.
A. Oralidade e Escrita. Recife/UFPE, Mimeografado,1995.
Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 7ed. São Paulo:
Cortez, 2007
(Letícia M. Goulart)
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