Conteúdo 4: Outras teorias cujo objeto de estudo é o texto.
A linguística textual assim como outros também romperam com estruturalismo linguístico onde se passou a procurar novos campos de investigação .Assim como a LT muito desses campos também apresentaram texto e não a frase como objeto de estudo .Nesse sentido serão apresentados alguns campos mais importantes para a relação da LT são eles:
I-Sociolinguística: Esta área investiga a relação entre linguagem e sociedade através dos textos e também mostra a diversidade linguística. Ela inscreve- se na corrente das orientações teóricas contextuais e funcionais sobre o fenômeno linguístico não apenas sob o ângulo das regras de linguagem; mas também sob a perspectiva das relações de poder manifestada pela linguagem.
Seu principal interesse é relacionar as variações linguísticas em uma comunidade onde há diferenciações existentes na estrutura social, pois objeto da Sociolinguística é a diversidade linguística. É possível identificar certos fatores como:
* Identidade social do emissor ou falante.
* Identidade social do receptor ou ouvinte.
* O contexto social estilo formal e informal.
* O julgamento linguístico – social distante que os falantes fazem de si e dos outros.
É importante dizer ainda que a sociolinguística diz respeito ao estudo da língua falada , observada descrita e analisada , que ressalta um fato social.
II-Pragmática: Analisa o uso concreto da linguagem, em vista seus usuários , na prática linguística.Pois a Pragmática defende a não centralidade da língua em relação à fala. Esta área aposta nos estudos da linguagem, considerando a Fala e não observa a Língua isolada de sua produção social. Os estudos pragmáticos pretendem definir o que é linguagem e analisá-la (através de textos) trazendo para a definição os conceitos de ‘sociedade’ e de ‘comunicação’, descartados pela Linguística saussuriana na subtração da fala (e do falante).
Há um forte interesse pelos fenômenos linguísticos que não são puramente convencionais, mas sim, compostos também por elementos criativos, inovadores que se alteram e interagem durante o processo de uso da linguagem. O recorte de análise da Pragmática não está reduzido a fatos delimitados e convencionais da língua como sistema (inato), mas sim, trabalha a partir de indícios de funcionamento da linguagem, mesmo que isso implique em visualizar erro, exceção, licença poética!
III- Analise do Discurso: Surgiu na França nos anos 60,com o intuito de suprir as insuficiências da analise de conteúdo das ciências humanas que concebia o texto em sua transparência, como projeção da realidade no mundo (extra discursivo) sem considerar as ligações linguísticas e textuais. A AD, ao contrário, considera o texto em sua opacidade, enfatizando o funcionamento linguístico-textual dos discursos no contexto histórico-social. Conforme Maingueneau, 1987, subjazem à Análise do Discurso três práticas:
1-Tradição filológica – história e reflexão sobre os textos (instrumento para História, antropologia, filosofia).
2-Prática da explicação de textos – teoria da leitura (contexto universitário na França).
3. Base no estruturalismo - que via o texto em sua imanência diferenciado dos modos de estudo da filologia.
A influência do pensamento marxista através de Althusser é distinção entre ciência e ideologia, recorrendo ao materialismo histórico: ideologia geral ideologias particulares. Para Pêcheux, principal autor na França dessa corrente, uma das base para esse funcionamento é a linguagem: ela, a linguagem, é o lugar privilegiado em que a ideologia se materializa.
A linguística de Saussure era insuficiente por não dar conta da linguagem linguisticamente, incorporando a sua “exterioridade”, sua condição social, histórica e ideológica. Pêcheux concebe a AD apoiando-se criticamente em Saussure, mesmo que reconhecendo nele o ponto de origem da ciência linguística – Fonologia, Morfologia, Sintaxe. Mas afirma que, o estruturalismo saussuriano não dá conta da Semântica discursiva e suas condições sócio históricas.
Há críticas à AD que apontam como voltada aos corpora impressos, institucionalizados, (interessados nos mecanismos linguísticos formais e nas condições de produção), deixando de lado outras possibilidades do discurso ‘comum’, heterogêneo. Tais críticas são em certo ponto legítimas, mas elas acabam conduzindo a uma posição confusa. É isso que acontece com as tantas ‘análises do discurso’. Um exemplo é o que se entende por ‘análise do discurso nos Estados Unidos (correntes interacionistas e etnometodológicas).
O domínio da AD, mesmo “restrito” desta forma, permanece ilimitado – discurso jurídico, religioso, etc., ou discurso narrativo, didático..., ou ainda, imprensa socialista, manifestos feministas... questões que atravessam essa ou aquela coletividade em dada conjuntura. Daí se constata a possibilidade de construção de uma infinidade de objeto de analise.
A partir da crítica feita à dicotomia saussuriana língua e fala, o conceito de discurso se firma na associação de regularidades linguísticas às suas condições de produção, constituindo o falante em sujeito as sujeitado.
Atualmente os estudos discursivos concebem o discurso, de modo geral, como a prática social de produção de textos. Todo discurso é um construto social, não individual e analisável apenas a partir de suas determinações sociais históricas e ideológicas.
A Análise do Discurso (de linha francesa) é uma prática e uma área da Linguística e da Comunicação que se particulariza por analisar formações ideológicas através de textos. É muito utilizada para a análise de textos polêmicos, relacionados aos contextos político, pedagógico, religioso, jurídico, científico, midiático e também artístico, de protesto, ou ainda que evidencie minorias marginalizadas, em busca das ideologias que trazem em si. Sua orientação teórica prioriza o estudo da estrutura e acontecimento discursivos em seus processos formadores, bem como a determinação social histórica e ideológica no discurso.
IV-Semiótica Discursiva: A Semiótica aponta o texto, e não a palavra ou a frase, como seu objeto de estudo e procura explicar os sentidos do texto a partir de certos mecanismos e procedimentos de construção do sentido.Esses mecanismos e procedimentos dizem respeito a:
* organização linguístico-discursiva.
* relações com a sociedade e com a história.
O texto pode ser tanto um texto linguístico quanto um texto visual, olfativo ou gestual, ou, ainda, um texto em que se sincretizam diferentes expressões, como nos quadrinho, nos filmes ou nas canções populares. Esta teoria interessa-se pela análise do Plano de Conteúdo do texto e busca construir a sua significação a partir de Percurso Gerativo dos Sentidos.
V-Estudos enunciativos: A produção de sentidos na linguagem não se verifica em relação ao estado de coisas, mas se realiza a partir das enunciações anteriores e no acontecimento enunciativo, faremos algumas observações sobre o fenômeno da enunciação. Para isso, observaremos algumas reflexões bakhtinianas sobre a enunciação e polifonia, as considerações de Benveniste sobre a enunciação, os dispositivos teóricos concernentes à teoria polifônica ducrotiana, além de considerações a respeito da Semântica Enunciativa do Acontecimento.
Bakhtin legou-nos uma importante trilha de reflexões a respeito da polifonia e da enunciação, defendendo o dialogismo constitutivo da linguagem e a natureza social da enunciação. Para ele, a enunciação é o produto da interação dos indivíduos socialmente organizados e, ainda que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. O termo “diálogo” deve ser entendido num sentido amplo, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas como toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. “A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros” e em todo enunciado descobriremos que está o outro em diferentes graus de alteridade. Existe uma gama dos gêneros mais difundidos na vida cotidiana, tão cristalizados, apresentando formas tão padronizadas (por exemplo, os provérbios), que a expressão individual do locutor praticamente só pode manifestar-se na própria escolha do gênero. As palavras não são de ninguém, estão a serviço de qualquer locutor e de qualquer juízo de valor, e podem mesmo ser totalmente diferentes, até mesmo contrárias. Conforme Bakhtin, em relação às fórmulas estereotipadas da vida corrente, os sistemas ideológicos constituídos da moral social, da ciência, da arte e da religião cristalizam-se a partir da ideologia do cotidiano, exercem por sua vez sobre esta, em retorno, uma forte influência e dão assim normalmente o tom a essa ideologia.
E. Benveniste afirma que a enunciação coloca em funcionamento a língua por um ato individual de utilização, por parte de um locutor que mobiliza a língua por sua conta: é o ato mesmo de produzir um enunciado. A enunciação se caracteriza pela realização vocal da língua, supõe a conversão individual da língua em discurso (a semantização da língua) e apresenta caracteres formais próprios a partir da manifestação individual que ela atualiza. Tal mobilização e apropriação da língua são, para o locutor, a obrigatoriedade de referir pelo discurso e para o outro: “a referência é parte integrante da enunciação”. A emergência dos índices de pessoa só se produz por meio da enunciação. Como diz o autor, o presente é propriamente a origem do tempo. A enunciação cria entidades na rede de indivíduos em relação ao “aqui-agora” do locutor. Em relação à estrutura do diálogo na enunciação, o autor defende a possibilidade de haver enunciado sem diálogo (portanto sem locutor):
“Poder-se-ia objetar que pode haver diálogo fora da enunciação, ou enunciado sem diálogo. Os dois casos devem ser examinados. Na disputa verbal praticada por diferentes povos e da qual uma variedade típica é o hain-teny dos Merinas, não se trata na verdade nem de diálogo nem de enunciação. Nenhum do dois parceiros se enuncia: tudo consiste em provérbios citados e em provérbios opostos citados em réplica. Não há uma única referência ao objeto do debate. Aquele, dos dois participantes, que dispõe do maior estoque de provérbios, ou que os emprega de modo mais hábil, mais malicioso, menos previsível deixa o outro sem saber o que responder e é proclamado vencedor. Este jogo não tem senão a aparência de um diálogo. Inversamente, o “monólogo” procede claramente da enunciação. Ele deve ser classificado, não obstante a aparência, como uma variedade do diálogo, estrutura fundamental. O “monólogo” é um diálogo interiorizado, formulado em “linguagem interior”, entre um eu locutor e um ouvinte.
Ducrot desenvolve mais sistematicamente a Teoria Polifônica da Enunciação, sendo este passo significativo no sentido de romper com a unicidade do sujeito falante. Ele conduz uma reflexão crítica sobre a postura tradicional de algumas linhas teóricas da Linguística que concebem a linguagem como monológica e o sujeito como unicentrado. Conforme Ducrot (1987), sua teoria polifônica da linguagem desconstrói o postulado teórico acerca do sujeito.
É com a última concepção (mais completa) que o autor se coaduna em sua teoria. Dentro dessa perspectiva, conforme o autor, sobre os conceitos de sentido e significado, o sentido diz respeito à enunciação e o significado diz respeito à frase. Na enunciação, o sentido tem natureza instrucional a partir das "Variáveis Argumentativas". A concepção polifônica do sentido mostra como o enunciado assinala, em sua enunciação a superposição de diferentes vozes. Para Ducrot, tal qual uma cena de teatro em que se configuram diferentes personagens que dialogam entre si, há uma apresentação de diferentes vozes, de vários pontos de vista, e o locutor tem como função provocar seu aparecimento e mostrá-los dentro do enunciado: a estes diferentes pontos de vista o autor vai chamar de enunciadores. Ducrot (1988) aponta três diferentes funções enunciativas para melhor identificar a multiplicidade de vozes presentes na enunciação:
* ·O Sujeito Empírico: que é o autor efetivo, agente da reprodução de discursos já escutados ou lidos. O ser empírico que preenche o lugar de sujeito;
* ·O Locutor: que é o responsável presumido pelo enunciado a quem se atribui a responsabilidade pelo mesmo, responsável, inclusive pelo ato praticado e não pelo conteúdo proposicional. (marcas em primeira pessoa);
* O Locutor : que é o locutor-enquanto-pessoa-no-mundo, aquele que serve de suporte para determinadas predicações;
* Os Enunciadores: Que são os vários pontos de vista que podem ser percebidos em um mesmo enunciado.
Apagada a mediação do sujeito empírico na enunciação, as figuras enunciativas dão lugar à multiplicidade de sujeitos.
Guimarães Assim como Ducrot, esse autor distancia-se da visão de Benveniste que concebe a enunciação como uma atividade do locutor em produzir um enunciado e que considera o sujeito da enunciação como uno, único e onipotente em relação ao seu próprio dizer e à língua da qual esse sujeito se apropria para dizer algo. Ele mantém que no enunciado há a representação de diferentes papéis do Locutor. “as personagens se constroem na medida em que se representa uma diante da outra”. O autor explicita que a dupla falante/ouvinte apenas caracteriza os agentes físico-fisiológicos de falar e ouvir, de modo que não dizem respeito ao linguístico e, portanto, não se incluem como objeto da semântica. Entretanto as figuras/personagens da enunciação linguisticamente consideradas são: locutor/alocutário e enunciador/destinatário. O locutor é aquele que se representa com eu na enunciação, representando-se, internamente ao discurso, como responsável pela enunciação em que ocorre o enunciado. O locutor é uma figura constituída internamente ao discurso e marcada no texto pelas formas do paradigma do EU. O alocutário é o TU do discurso, representado enquanto correlato do locutor pelo próprio locutor. Na representação do locutor podemos distinguir dois papéis, L e Lp. O Locutor-L é aquele que simplesmente se representa como fonte do dizer. O Locutor-Lp é o Locutor-enquanto-pessoa-no-mundo. O locutor-enquanto-pessoa-no-mundo deve ser caracterizado sócio historicamente e isso já se constitui num deslocamento que o autor faz em relação a Ducrot, para quem o Lp é apenas mais uma figura representativa das funções enunciativas que ele descreve. Respectivamente ao Locutor-L há o Alocutário-AL e ao Locutor-enquanto-pessoa-no-mundo há o Alocutário-enquanto-pessoa. Há ainda o nível da relação entre enunciador e destinatário para fechar o quadro polifônico
da enunciação. O enunciador é a posição do sujeito que estabelece a perspectiva da enunciação. O destinatário é o correlato constituído segundo a perspectiva do enunciador. Suponhamos aqui que no meio de uma conversa alguém diga: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Em tal enunciado representa um L que fala da perspectiva do senso comum, e que, inclusive, mobiliza esta perspectiva como argumento para o que diz. Assim L, neste caso, fala de uma perspectiva genérica-coletiva, e esta enunciação representa um enunciador genérico-coletivo. Ao contrário de Benveniste, Guimarães não exclui o enunciado proverbial do funcionamento enunciativo, nem dialógico, nem muito menos lhe sonega o Locutor. Guimarães procura caracterizar uma cena enunciativa no texto que cruza as representações da enunciação e como estas representações relacionam-se com as de alocutário e destinatário representando a alteridade na enunciação. As categorias de análise mencionadas pelo autor são inspiradas, na teoria polifônica da enunciação de Ducrot, mas ele enfatiza seu afastamento quanto ao apego à posição estruturalista manifestado por Ducrot. Para o autor, a enunciação constitui historicamente as regularidades da língua que estão sempre abertas ao efeito do episódio enunciativo.
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