PROJETO PARA DESENVOLVER ORALIDADE E ESCRITA NA
PRÉ-ESCOLA
Trabalho faz com que as crianças expressem suas
preferências e respeitem os colegas.
A comida favorita, a história mais legal, a música
mais divertida. As crianças adoram trocar experiências e falar sobre as coisas
que gostam de fazer. "Eu prefiro brincar de boneca", diz Camila
Vieira de Souza, 5 anos, da Creche Aventura do Aprender, em Osasco, na Grande
São Paulo. "Eu adoro jogar bola, contam alguns dos colegas dela. Eu gosto
mais de pular corda", afirmam outros, mostrando que desde cedo são capazes
de fazer escolhas e manifestar-se a respeito delas. Como esses temas rendem
muito bate-papo na hora do parque ou da merenda, a organização não
governamental Associação das Mulheres pela Educação - que presta consultoria
pedagógica a algumas creches da cidade resolveu usá-los como base de um projeto
didático. O principal objetivo é
desenvolver a linguagem", justifica Terezinha dos Santos, coordenadora de
Educação e presidente da entidade. Durante a primeira fase, os educadores
dedicam atenção à oralidade, fazendo a garotada se expressar e justificar suas
opções. Numa segunda etapa, o foco é a escrita e o objetivo, a montagem de um
livro coletivo com as predileções dos autores.
No decorrer do trabalho, outras metas importantes também são alcançadas.
Falar sobre o que agrada e o que satisfaz ajuda na construção da identidade e
favorece a criação de vínculos, pois muitos vão se identificar com o gosto do
colega. Caso isso não aconteça e apareçam divergências durante as exposições, o
resultado também é positivo: está criada a oportunidade de aprender a respeitar
as diferenças e a diversidade de opiniões. Além disso, a variedade de citações
amplia o repertório em relação a brinquedos, brincadeiras, livros, músicas etc.
Por revelar muito sobre a personalidade e os gostos individuais, é interessante
que o projeto seja proposto no início do ano para haver maior aproximação entre
todos.
Intervenção didática
Embora seja interessante deixar o grupo falar à vontade, cabe ao educador
fazer interferências que incitem à participação, principalmente dos mais
tímidos. A professora Luciane Teixeira, da Creche Aventura do Aprender,
desenvolve a atividade atualmente na pré-escola. "Na hora do conto, quando
alguém tem dificuldade de se expressar espontaneamente, eu pergunto por que
aquela é a história preferida, o que é mais legal nela, de qual personagem mais
gosta." Depois, ela procura confrontar as opiniões, questionando se os
outros concordam ou não com aquele colega. Nessa fase, é fundamental usar a
sensibilidade. "Quando dois falarem ao mesmo tempo, é preciso dizer
'Quando você fala, você não gosta de ser escutado?' Então vamos esperar o amigo
terminar para que você possa falar depois?"", ensina Clélia Cortez,
coordenadora pedagógica da Creche Central da Universidade de São Paulo, na
capital paulista. Como explica o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, entre 4 e 6 anos a
garotada usa a língua para brincar, expressar desejos, opiniões, ideias,
sentimentos ou fazer relatos de acontecimentos. E situações de interação como a
proposta por Luciane contribuem para a construção do conhecimento sobre as
regularidades da linguagem oral, como a repetição de palavras e o uso de
algumas delas como apoio para o pensamento ("né", "então"
etc.). As crianças dessa faixa etária empregam os recursos de que dispõem.
Muitas vezes chegam a criar expressões e palavras visando a apropriar-se das
convenções ("Minha lista de preferições é...", em vez de "preferências").
Um projeto como esse pode desencadear uma série de outras ações, com os mesmos
princípios, para ser realizadas em outros momentos ou até mesmo fora da sala.
Uma ideia, dada por Clélia, é a garotada escrever um bilhete para a merendeira
com a lista das frutas prediletas, pedindo que faça, com elas, uma gostosa
sobremesa. Outra sugestão é propor uma pesquisa sobre os animais mais citados -
podem ser os dinossauros, sempre presentes no imaginário da garotada, ou então
os bons e fiéis cãezinhos. "Com isso, o educador consegue que o pequeno se
sinta acolhido e perceba a importância de sua opinião", ressalta
Clélia.
Tudo vai para o papel Depois da ênfase nas atividades de
oralidade, o trabalho começa a se concentrar na leitura e na escrita. Vale
lembrar que na pré-escola às crianças estão no processo de alfabetização e
escrevem de acordo com suas hipóteses sobre o funcionamento do sistema de
escrita. Mais uma vez as intervenções do professor são essenciais. "Para
ajudar as crianças a avançar nos registros escritos, é preciso conhecer as
diferentes fases do aprendizado da alfabetização", recomenda
Beatriz Gouveia, coordenadora do programa Além das
Letras, do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. Segundo ela, antes de tudo se deve
fazer dessas atividades momentos de reflexão sobre a língua escrita. Para que
isso ocorra, uma das principais intervenções é pedir que cada um leia o próprio
registro. Luciane Teixeira ajuda a turma a avançar na escrita distribuindo,
logo no começo do ano, crachás para todos. Mais do que facilitar o entrosamento,
nesse projeto a identificação tem por objetivo estimular a comparação entre as
grafias dos nomes. As crianças observam que o "bru" de
"bruxa" que está no título do livro de contos preferido da turma é
igual ao de "Bruno" e que o "ma" de "maçã" - a
fruta mais gostosa, segundo boa parte da turma - está também no nome de
Maria. Uma página por autor O ponto alto dessa etapa é a elaboração do
produto final, o livro. Luciane costuma dar uma folha para cada um preencher
com os itens que prefere. Depois de escrever e revisar, a turma toda se envolve
na decisão sobre o título da obra, o visual da capa e a ordem das páginas.
Antes de colaborar na montagem final, cada um escreve o nome completo e faz uma
ilustração. A professora propõe o desenho do autorretrato por achar que ele
ajuda ainda mais a personalizar a produção. Nessa fase, ela apresenta obras
desse gênero de autoria de pintores famosos, que serão analisadas pelos
pequenos e servirão de referência nas produções artísticas. Para enriquecer os
momentos de criação, solicita que todos levem de casa uma foto recente. Uma
outra opção é oferecer um espelho para que a garotada se observe antes dos
primeiros traços. Luciane também deixa à disposição material de pintura, como
giz de cera e lápis de cor. Na opinião
de Beatriz Gouveia, esse projeto é uma excelente opção para incluir a garotada
nas práticas de linguagem, incentivando a compreensão de sua função
comunicativa e da leitura e da escrita convencionais. A possibilidade de
trabalhar com as listas é outra vantagem. Os pequenos aprendem a estrutura do
gênero e que a organização das palavras, dentro de um contexto, adquire um
sentido. Palavras como "carro", "doce" e "bola"
são aparentemente desconexas. Mas, organizadas em uma lista das preferências,
passam a ter um campo semântico definido e uma função comunicativa. Beatriz
também elogia a ideia da criação de um livro. "Essa iniciativa convida a
assumir o papel de leitor e escritor." O terceiro trunfo é trabalhar
questões de interação. Afinal, é por meio das relações sociais que a criança se
insere no mundo da linguagem e tem acesso a outras realidades. "O projeto
abre a possibilidade de expor ideias, trabalhar em grupo, respeitar a opinião
do outro e entender as diferenças", opina Clélia Cortez.
CONFIRA ALGUNS EXEMPLOS DE PROJETOS DIÁTICOS:
Conteúdos -
Oralidade. - Leitura e escrita. - Respeito aos colegas e à diversidade de
opiniões.
Tempo estimado Seis atividades
Materiais necessários Cartolina, folhas de papel sulfite,
papel-cartão, canetas, coloridas, brinquedos diversos, giz de cera e
crachás. Desenvolvimento das atividades
1ª etapa
Comece o projeto com uma roda de conversa, estimulando todos a contar a
você e aos colegas o que mais gostam de fazer ou de comer. A maioria vai querer
falar sobre isso, e provavelmente de forma desorganizada. É hora então de
apresentar o projeto, sugerindo a confecção de um produto a ser feito
coletivamente: o livro das preferências. Explique
que cada um terá uma página contendo as informações sobre o brinquedo mais
querido, a comida mais gostosa, a música favorita e assim por diante. Para
decidir os itens que serão contemplados, converse com a classe e coloque as
sugestões no quadro. A lista pode incluir filmes, brincadeiras, personagens
etc. Escolhidos os tópicos, peça que cada um fale sobre os temas. Vá anotando
as citações em uma cartolina, com letras grandes e legíveis. Uma boa maneira de
estimular o discurso é fazer perguntas: qual é seu personagem preferido? De que
brinquedo você mais gosta? Dada a resposta, peça justificativas. Incentive os
colegas a comentar, socializando as opiniões (Você pensa a mesma coisa que seu
colega? Por quê? Qual é sua opinião?). Para a conversa ficar mais animada,
sugira que todos levem de casa os objetos mencionados para compartilhá-los com
a turma. Reserve uma atividade para essa troca de experiências.
2ª etapa Monte a lista em uma folha de sulfite com
os tópicos a ser respondidos brinquedo, fruta etc. Faça cópias e distribua as
páginas. Leia os temas em voz alta para não haver dúvidas e proponha a
elaboração oral da listagem antes do registro. Em seguida, organize duplas de
trabalho para a produção escrita e deixe as crianças usarem as próprias concepções.
Uma vai ajudar a outra, mas é preciso intervir para levá-las a refletir sobre a
maneira de grafar as palavras. O melhor modo de proceder é perguntar por que
optaram por determinada letra e fazê-las utilizar o que já conhecem, comparando
as sílabas usadas com as vistas em outros contextos. Peça que leiam o próprio
registro. Assim é possível observar a ausência de uma letra ou a necessidade de
alterar algumas delas.
3ª etapa
Antes de partir para a confecção do livro, leve algumas obras infantis
para a classe, como as de contos, para que a organização das páginas seja
observada. Chame atenção para a numeração e o índice.
Produto final
Livro Para a publicação ficar bem
acabada, é recomendável que a lista seja passada a limpo e que as páginas contenham
ilustrações e o nome um fazer o próprio retrato. Delegue completo do autor. Uma
idéia é cada algumas decisões à turma, como o título, o visual e as cores da
capa e das páginas. Realize intervenções para ajudar na organização da
publicação, ensinando a numerar as páginas e a fazer o índice. Como haverá
apenas um exemplar, deixe-o disponível para o grupo consultar nos momentos
livres e, posteriormente, organize um rodízio para que todos o levem para casa
e leiam com os familiares.
Avaliação
Observe se as crianças conseguem se expressar oralmente e como interagem
com os colegas quando eles estão fazendo a exposição. Observe se avançaram em
relação à escrita: a primeira lista certamente será feita com sua ajuda. Mas na
preparação da versão final você pode conferir os avanços em relação aos
procedimentos de escritor e ao conhecimento sobre a confecção de um livro.
PROJETO - FEIRA DO LIVRO Objetivos
• Formar comunidade de leitores.
• Estimular
a formação de leitores e escritores desde a Educação Infantil.
• Investir na produção e no compartilhamento
de resenhas.
Tempo estimado
Dois meses.
Materiais necessários Um bom acervo literário, bem ilustrado e com
vocabulário rico.
Organização da sala
Nos momentos de leitura, coloque as crianças em roda. Na hora da
escrita, faça agrupamentos de quatro.
Desenvolvimento
• 1ª ETAPA
Selecione os títulos adequados , com tramas
interessantes e evitando os que têm vocabulário infantilizado. Apresente
catálogos de editoras de obras infantis. Compartilhe algumas resenhas com a
classe e converse sobre elas. Mesmo com o texto curto, é possível saber do que
ele trata? Ele conta toda a história?
• 2ª ETAPA Proponha fazer uma feira de livros, na
qual todos terão de indicar alguns para que os visitantes se interessem e
leiam. Ensine a diferença entre ler e contar. Para que as crianças se
familiarizem com a linguagem escrita, leia sem acrescentar nem omitir nada. Na
hora de contar uma história, mostre como a linguagem é mais coloquial e que
detalhes são desnecessários no relato. Decida com a garotada os títulos
favoritos para fazer as resenhas e como eles serão divulgados: em forma de
painel, folder ou varal. • 3ª ETAPA
Para fazer as resenhas, os pequenos precisam conhecer os livros e gostar deles.
Divida a turma em grupos, colocando pelo menos um participante mais experiente
para ser o escriba. Peça que todos ditem o que querem comunicar. Essa será a
base do trabalho. Lembre-os de que não se trata de reconto e questione a melhor
forma de escrever para deixar as pessoas com vontade de ler.
• 4ª ETAPA
Faça uma revisão coletiva de todos os textos produzidos. Chame a atenção
para a repetição de palavras e para as marcas da oralidade (como aí, né e daí).
Apresente as referências dos catálogos para comparação. Depois de revisadas, as
produções devem ser passadas a limpo e ilustradas.
Produto final
• Feira do livro Monte as mesas com as publicações e decida com a turma
a ordem de quem falará. É interessante que todos participem, por isso faça o
rodízio.
Avaliação
Observe o envolvimento do grupo e veja se os textos apresentam as
características próprias do gênero trabalhado.
FONTE:
Disponível em
<http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/gestao/linguagem-oral-escrita-428161.shtml>.
Acesso em 09/04/2013.
Disponível em
<http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/gestao/feira-livro-428191.shtml>.
Acesso em 09/04/2013.
Disponível em
<http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/eu-prefiro-boneca423396.shtml>.
Acesso em 09/04/2013
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