Parnasianismo
— No Brasil.
Contexto
Histórico
A Segunda Revolução Industrial é o
período em que ocorre a formação de empresarias e a aliança entre a indústria e
a ciência. Ocorre um enorme crescimento da urbanização e dos serviços públicos;
as cidades começam a adquirir a face complexa que têm atualmente.
Na Europa e nos Estados Unidos, o
deslocamento da produção manual para a mecânica se acentua, aumentando então o
número de operários fabris nas cidades industriais em relação ao número de
trabalhadores rurais. Aumenta também o numero de burocratas do espaço urbano e
como consequência a luta das classes entre patrões e operários fica acirrada.
Estes amparados por sindicatos em crescimento e pelos partidos socialistas de
linhagem marxista.
No Brasil, a segunda metade de século
XIX é marcada pela abolição da escravidão, em 1888, e pela proclamação da
Republica, em 1889.
Conceito
Depois da revolução romântica que impôs
novos parâmetros e novos valores artísticos, formou se em nosso país um grupo
de poetas que desejava restaurar a poesia clássica, desprezada pelos românticos.
Propunham uma poesia objetiva, de elevado nível vocabular, racionalista,
bem-acabada do ponto de vista formal e voltada para temas universais.
Criando-se então o parnasianismo.
O Parnasianismo é o
movimento de inspiração clássica que ganhou pouco destaque na Europa, mas teve
muita repercussão no Brasil a partir da década de 1880. A origem da
palavra Parnasianismo associa-se ao Parnaso grego, segundo a
lenda um monte da Fócida, na Grécia central, consagrado a Apolo e às
musas. A escolha do nome já comprova o interesse dos parnasianos pela
tradição clássica, acreditavam
que, apoiando-se nos modelos clássicos, estariam combatendo os exageros de
emoção e fantasia do Romantismo e, ao mesmo tempo, garantindo o equilíbrio que
almejavam.
Características do Parnasianismo
Quanto á forma:
·
Gosto pelo soneto, pelo decassílabo e pelo vocabulário sofisticado
·
Busca do equilíbrio e da perfeição formal.
Quanto ao conteúdo:
·
Objetivismo
·
Influência da literatura clássica
·
Racionalismo
· Contenção dos sentimentos
· Universalismo
· Presença da mitologia greco-latina
· Arte pela arte ou arte sobre a arte
· Distanciamento dos temas sociais
Resgate
da tradição clássica
Os poetas românticos romperam com séculos de
tradição da poesia clássica para criar um novo padrão de poesias, centradas no
eu, nos sentimentos, na imaginação e na busca de uma língua brasileira.
Na opinião dos poetas parnasianos, entretanto,
os românticos teriam posto a “boa poesia” a perder, pois teriam deixado de se
preocupar com valores importantes da poesia clássica, como equilíbrio,
perfeição formal, vocabulário elevado, universalismo, etc. Desse modo, certos
temas e procedimentos da poesia clássica — como o cultivo do soneto, a presença
da mitologia greco-latina, o racionalismo e o universalismo — voltaram a ser
cultivados na poesia parnasiana.
“A arte pela
arte”
Distanciados dos problemas sociais, alguns
parnasianos dedicaram-se a tematizar em seus poemas a própria arte. Por
exemplo, descrevem com precisão obras de arte, como vasos, peças de escultura,
lápides tumulares, bordados, etc. Com esse procedimento, restringiram ainda
mais o principio da “arte pela arte”, que se transformou em “arte sobre a arte”.
A Batalha do Parnaso: Guerra ao Romantismo
Doutrinas
republicanas, positivistas e determinantes
circulavam na Europa e também se expandiram no Brasil, por meio de jornais
do Rio de Janeiro. Esses mesmos jornais eram o centro da vida intelectual,
política e econômica do Brasil Império. Porém no final da década de 1870, nas
páginas do jornal “O Diário do Rio de Janeiro”, travou-se a “Batalha
do Parnaso”.
Tratava- se
de uma polêmica que opôs os adeptos do
Romantismo, de um lado, e os seguidores do Realismo/ Naturalismo e do
Parnasianismo de outro. Entretanto não havia homogeneidade entre os escritores
realistas naturalistas e, de outro os poetas parnasianos. Pois a meta dos
realistas e naturalistas eram: Uma ficção baseada na análise objetiva da
realidade social e humana, contraponto
essa visão, os parnasianos pregavam a
“arte pela arte”, o culto pela forma, sem uma adesão dos problemas sociais do
período. No
entanto, a recusa ao sentimentalismo e da objetividade, levou a união dos
realistas, naturalistas e parnasianos contra o Romantismo. Essa união também se
de pela divulgação de uma arte ligada ao espírito cientificista, marcada pela
objetividade, pela impessoalidade e pelo rigor.
Ornamentação, gramática e lirismo
A obsessão pela forma e pela
ornamentação levou os poetas a estudar com profundidade a língua portuguesa,
para empregar construções diferentes das usuais como, por exemplo: As
frequentes inversões sintáticas e o domínio de um vocábulo culto e até
precioso, distante do vocabulário corrente, entretanto vemos que a indiferença
ao sofrimento foi muita das vezes abandonada pelos parnasianos.
Olavo Bilac: o ourives da linguagem (1865-1918)
É o mais conhecido poeta
parnasiano brasileiro, Olavo deslocou-se desde jovem ao jornalismo e a
literatura, após abandonar os cursos de Medicina, no Rio de Janeiro, e de
Direito em São Paulo.
Boêmio e contestador,
nos primeiros anos aderiu à causa abolicionista junto a José do Patrocínio,
colaborando no jornal Cidade do Rio, e se refugiou em Minas Gerais em
1893, perseguindo pelo governo de Floriano Peixoto, contra o qual se
posicionada publicamente.
Nessa época intensifica sua atividade como jornalista
político e escrevendo também sua obra Crônicas e novelas (1894).
Posteriormente
republicano e nacionalista convicto, Bilac, já consagrado como o maior poeta
brasileiro vivo até então, é honrado com missões oficiais pelo país e pelo
exterior e se torna ardoroso defensor da pátria, assumindo o papel de poeta
cívico. Entra em campanhas em prol da causa militar, trabalha como inspetor de
ensino, ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras, escreve poemas infantis
de fundo moralista e pedagógico, bem como obras exaltando os valores da língua
portuguesa e as virtudes do país.
Obras
Poesias (1888)
Nesta obra desaparece o
jornalista com pretensões de agitador político e entra no seu lugar um
equilibrado poeta parnasiano, que abraça o ideal da “a arte pela arte”, obedecendo as regras
fixas de composição e pratica um rigoroso culto a forma. Na seção intitulada “Panóplias”, os poemas tem sua
temática esvaziada de qualquer sinal de subjetividade; o elogio ao “belo” estético é uma constante; o apuro formalista
se dá de maneira impecável; e a cultura greco-latina é abertamente resgatada.
Nos trinta e
cinco sonetos de “Via Láctea”, contudo, desenvolve-se a temática amorosa, um
dos mais recorrentes motivos da obra de Bilac. Neles, o cuidado com a forma
controla o exagero sentimental que certa passionalidade conduza a expressão dos
sentimentos. Observe que o poema retoma um antigo tema: a oposição da mulher
idealizada e o poeta posto no mundo terreno e, portanto, rebaixado:
Tu, mãe sagrada! Vós também, formosas
Ilusões! Sonhos meus! Íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.
E, ó meu amor! Eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...
Profissão de Fé — Olavo Bilac
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul celeste.
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
Porque o escrever --tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Análise e Explicação
Em “Profissão de Fé” Olavo Bilac, mostra que o
ourives e o poeta são semelhantes na suas profissões, pois ambos trabalham em
algo com o intuito de alcançar a perfeição, transformando o material trabalhado
em algo raro e belo no caso do ourives as pedras preciosas e o poeta palavras.
Percebemos que Bilac tinha o objetivo de mostrar todas as características de
como criar uma poesia parnasiana perfeita. Percebemos isso claramente no
decorrer da Obra, pois, vemos a utilização da sintaxe em sua totalidade,
encontramos também rimas perfeitas e o trabalho das palavras apenas em seu
sentido literal. No entanto não vemos em momento algum a poesia tratando de sentimentos,
mas zelando para que a mesma seja perfeita gramaticalmente.
Exercícios
Leia dois poemas de Olavo Bilac e faça
atividades propostas.
Texto 1
A Um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma de disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(Olavo Bilac)
Texto 2
Soneto XIII, “Via láctea”
"Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(Olavo Bilac)
Sobre os textos
1. Qual é a temática do texto 1 ? Como a ideia de “ arte pela arte”
se manifesta no tratamento dado a essa temática?
2. No poema "Via láctea" há um diálogo sugerido pelo emprego de pronomes e verbos e pelo emprego das aspas. Identifique os interlocutores desse diálogo.
3. A propósito desse soneto:
a) Identifique no texto um exemplo de predomínio da emoção sobre a razão.
b) O que é necessário, segundo o eu lírico, para estabelecer comunicação com as estrelas?
3. A propósito desse soneto:
a) Identifique no texto um exemplo de predomínio da emoção sobre a razão.
b) O que é necessário, segundo o eu lírico, para estabelecer comunicação com as estrelas?
4. Explique de que forma o tema do primeiro poema se expressa nos
aspectos formais tanto do texto 1 quanto do texto 2.
5. Qual é a temática central do texto 2?
6. Alguns críticos costumam apontar, como consequência do culto
excessivo da forma, certa frieza e ausência de sensibilidade nos poemas
parnasianos. Os sonetos lidos confirmam esse ponto de vista? Justifique sua
resposta.
Exercícios relacionados ao poema “Profissão de
Fé”
1.
Nas primeiras estrofes, o poeta define sua “profissão de fé”, isto é,
os seus princípios artísticos.
a) A quem o poeta se compara nas duas estrofes? Por quê?
b) Ao longo do texto, o material do poema (a palavra) é comparado a materiais de escultura e da ourivesaria, como o ônix, ouro, rubi, etc. Considerando a qualidade e o tipo de uso desses materiais, que concepção o poeta revela ter a respeito do valor e da função da poesia?
a) A quem o poeta se compara nas duas estrofes? Por quê?
b) Ao longo do texto, o material do poema (a palavra) é comparado a materiais de escultura e da ourivesaria, como o ônix, ouro, rubi, etc. Considerando a qualidade e o tipo de uso desses materiais, que concepção o poeta revela ter a respeito do valor e da função da poesia?
c)
De acordo com a 6ª,
a 9ª e
a 10ª
estrofes, qual é o fundamento principal do projeto poético parnasiano ?
2.
Diferentemente do Realismo e do
Naturalismo, que se propunham a descrever, analisar e criticar a realidade, os parnasianos
defendiam o princípio da “arte pela arte”, isto é, achavam que a poesia devia
voltar-se para si mesma, em busca da perfeição formal.
a)
Explique por que a 8ª estrofe
de “Profissão de fé” pode ser vista como expressão do princípio da “arte pela
arte”
b) Os escritores românticos tratavam os temas de
modo subjetivo, isto é, deixavam-se levar pela próprias emoções. Observe como o
eu lírico do poema aborda o tema enfocado e conclua: O poeta
parnasiano tende a ser sentimental e subjetivo ou racional e objetivo no
tratamento do tema ?
3. Identifique uma passagem do texto que evidencie a busca pela perfeição formal que aproxima o trabalho do poeta e do ourives.
4. Explique de que forma o final do poema contrasta com o egocentrismo romântico.
Alunos:
Bruna Carolina Santana do Prado
Juliana Tavares Rocha
Eliezer Feliphe Rocha
3. Identifique uma passagem do texto que evidencie a busca pela perfeição formal que aproxima o trabalho do poeta e do ourives.
4. Explique de que forma o final do poema contrasta com o egocentrismo romântico.
Bibliografia
Ser Protagonista Língua Portuguesa — Volume 2. Edições SM Ltda/ Cecília Bergamin, Cristiane Escolástico, Marianka Gonçalves-Santa Bárbara, Matheus Martins, Mirella L. Cieto e Ricardo Gonçalves Barreto.
Português linguagens: volume 2/ Willam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
Alunos:
Bruna Carolina Santana do Prado
Juliana Tavares Rocha
Eliezer Feliphe Rocha
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