terça-feira, 30 de maio de 2017

Analisando um Poema e Exercícios

Poemas analisados (Gerações Romantismo) – Prof. Ítalo Puccini 

O canto do guerreiro (Gonçalves Dias)

I

Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. - Ouvi-me, Guerreiros. - Ouvi meu cantar.

II

Valente na guerra Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? - Guerreiros, ouvi-me; - Quem há, como eu sou?

Análise: Na pergunta feita pelo guerreiro, podemos identificar uma outra, implícita: quem há como os brasileiros, descendentes de seres tão nobres? Assim tem início, em poemas como esse, a construção de uma imagem de nacionalidade definida pelos símbolos pátrios. O cenário é a selva, composta por uma natureza intocada pelos colonizadores. O eu lírico relata feitos de guerra e caçadas, atividades frequentes dos povos nativos da América. As características dos indígenas são sempre positivas e enaltecedoras: bravura, honra, lealdade. Para o poeta, a história a ser resgatada não pode ignorar a chegada dos portugueses e o massacre das tribos indígenas. Por isso, em “Deprecação”, o eu lírico dirige um apelo ao deus Tupã:

Deprecação (Gonçalves Dias)

Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto Com denso velâmen de penas gentis; E jazem teus filhos clamando vingança Dos bens que lhes deste da perda infeliz!

(...)

Anhangá impiedoso nos trouxe de longe Os homens que o raio manejam cruentos, Que vivem sem pátria, que vagam sem tino
Trás do ouro correndo, voraces, sedentos.

E a terra em que pisam, e os campos e os rios Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus: Por que lhes concedes tão alta pujança, Se os raios de morte, que vibram, são teus?

Análise: Com a popularidade alcançada pelos poemas de Gonçalves Dias, o projeto literário da poesia da primeira geração ganha força. Os brasileiros vão tomando contato com os heroicos guerreiros indígenas que lutaram contra os conquistadores portugueses. Como ancestrais, os índios se moldam perfeitamente ao papel literário que lhes cabe: delinear os contornos da nacionalidade a partir de traços positivos, como a honra e a coragem.

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Quando à noite no leito perfumado (Alvares de Azevedo)

Quando, à noite, no leito perfumado Lânguida fronte no sonhar reclinas, No vapor da ilusão por que te orvalha Pranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecida Solto o cabelo no suave leito, Por que um suspiro tépido ressona E desmaia suavíssimo em teu peito?

Virgem do meu amor, o beijo a furto Que pouso em tua face adormecida Não te lembra do peito os meus amores E a febre do sonhar de minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio O meu peito se afoga de ternura... E sinto que o porvir não vale um beijo E o céu um teu suspiro de ventura!

Um beijo divinal que acende as veias, Que de encantos os olhos ilumina, Colhido a medo, como flor da noite, Do teu lábio na rosa purpurina...

E um volver de teus olhos transparentes, Um olhar dessa pálpebra sombria Talvez pudessem reviver-me n’alma As santas ilusões de que eu vivia!

Análise: Observe a “cena amorosa” criada no poema: o eu lírico descreve uma mulher que dorme. Ela é apresentada de acordo com os clichês ultra-românticos (virginal, de
rosto lânguido, expressão sonhadora, cabelos soltos). A aproximação e o beijo roubado (terceira estrofe) acontece com a donzela adormecida. Essa condição é o que permite a aproximação sem risco de concretização do encontro amoroso. Enquanto ela dorme e sonha, ele nos fala sobre as suas fantasias, deixando claro que é governado pela “febre do sonhar”.   No apelo para que a virgem permaneça adormecida, o eu lírico deixa entrever sua opção pela fantasia. Ela não evita, porém, a manifestação do desejo: ele afirma que o futuro vale menos que um beijo; o céu, menos que um suspiro de alegria da mulher amada. Nas duas últimas estrofes, o eu lírico, ao mesmo tempo em que associa a manifestação física do amor ao medo (o beijo divinal é “colhido a medo”), afirma o desejo de ter revividas as ilusões que animavam sua vida.  _ _ _ _ _

Meus oito anos (Casimiro de Abreu)

Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é – lago sereno, O céu – um manto azulado, O mundo – um sonho dourado, A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!

Análise: Todas as imagens associadas à infância são positivas. A natureza é caracterizada por árvores de sombra acolhedora, o mar é como um lago sereno e o céu é estrelado. Nesse cenário paradisíaco do passado, emerge o traço principal que torna a infância um momento tão saudoso para o ultra-romântico: era o tempo da inocência. Casimiro de Abreu fala explicitamente disso quando afirma que a alma da criança respira “inocência” e menciona as brincadeiras “ingênuas”. A inocência da criança é perdida na idade adulta. O poema representa uma possibilidade de reviver, de forma idealizada, esse tempo perdido.
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Tragédia no lar (Castro Alves)

(...) Leitor, se não tens desprezo  De vir descer às senzalas, Trocar tapetes e salas Por um alcouce cruel, Vem comigo, mas... cuidado... Que o teu vestido bordado Não fique no chão manchado, No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste Às vezes a própria festa. Tu, grande, que nunca ouviste Senão gemidos da orquestra Por que despertar tu’alma, Em sedas adormecida, Esta excrescência da vida Que ocultas com tanto esmero?

(...)

Não venham esses que negam  A esmola ao leproso, ao pobre. A luva branca do nobre Oh! senhores, não mancheis... Os pés lá pisam em lama, Porém as frontes são puras Mas vós nas faces impuras Tendes lodo, e pus nos pés.

Análise: Os últimos versos são irônicos: o eu lírico confronta a pureza dos escravos à imundície dos senhores. Também são irônicos os versos que advertem as moças para que tenham cuidado e não manchem os vestidos bordados no chão imundo da senzala. O mesmo jogo é retomado, na última estrofe, em relação às luvas brancas do nobre.  Por meio de cenas como estas, fica clara a intenção do poeta: há, na sociedade brasileira, uma sujeira profunda que precisa ser lavada. A mancha da escravidão contamina o tecido social. Embora a elite se mostre elegante nas festas e bailes que frequenta, não conseguirá se livrar da alma causada pela exploração imperdoável de um povo.  _ _ _ _ _






Exercícios preparatórios P8 – Literatura – Prof. Ítalo Puccini

1. Leia o texto abaixo e assinale V para Verdadeiro e F para Falso:

“Portanto, ilustres e não ilustres representantes da crítica, não se constranjam. Censurem, piquem, ou calem-se como lhes aprouver. Não alcançarão jamais que eu escreva neste meu Brasil cousa que pareça vinda em conserva lá da outra banda, como a fruta que nos mandam em lata. (...) O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pêra, o damasco e a nêspera?”

(ALENCAR, José de. Benção Paterna. In: Sonhos de Ouro. São Paulo: Melhoramentos, s.d.)

(  ) Envolvidos pelo ideário político da independência, Alencar e outros escritores românticos empenham-se na construção da nação brasileira, através da luta pela emancipação da língua e da literatura nacionais. (  ) Na história da literatura brasileira, no percurso que vai do Romantismo ao Modernismo, a bandeira da ruptura com o princípio da imitação aos clássicos é empunhada por todas as escolas literárias. (  ) No segundo parágrafo, Alencar opõe, metonimicamente, por meio das frutas, o ambiente brasileiro ao ambiente europeu. (  ) O texto dá a entender que a língua se adapta ao meio para aonde foi levada, mais precisamente aos órgãos fonadores e à alma do povo que fala.

2. (U.E. Ponta Grossa-PR) A poesia romântica brasileira, em seus diversos momentos, apresenta como características:

01. escapismo e subjetivismo; 02. naturalismo e pitoresco; 04. nacionalismo e crítica social; 08. socialismo e ilogismo; 16. religiosidade e excessos.

( )

3. São características da 1ª geração:

01 Chamada Indianista (ou Gonçalviana). 02 Elementos tipicamente nacionais são exaltados e ampliados pelo prisma da idealização. 04 Forte religiosidade. 08 Gonçalves de Magalhães foi o introdutor do Romantismo no Brasil. 16 Castro Alves foi um importante autor desta geração.

( )

4. Sobre o Romantismo no Brasil, foram feitas as seguintes afirmações. Assinale as incorretas:

 01 Na 1ª Geração (Indianista), houve o predomínio do nacionalismo, da exaltação da natureza e do índio, que era descrito como um herói nacional. O principal autor foi Gonçalves Dias. 02 Na prosa, destacou-se José de Alencar, que teve 4 momentos: indianista, histórico, rural e urbano. 04 A objetividade é um dos traços fundamentais. A realidade é revelada através da atitude pessoal do artista, que traz à tona o seu mundo interior.  08 Exaltação nacionalista e indianista; Idealização da mulher; Atmosfera noturna; Presença da morte;  Tímida participação social com caráter de libertação: características das três gerações poéticas.   16 Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio de Almeida foram outros dois principais autores da prosa romântica. O primeiro publicou “Memórias de um sargento de milícias” e o segundo “A moreninha”.

(  )

5. Marque a alternativa correta.

a. Castro Alves e Álvares de Azevedo eram poetas românticos, porém cada um pertencia a uma geração. Apesar disso, os poetas possuíam uma temática semelhante e a figura da mulher era de um ser angelical na poesia de ambos. b. A terceira geração romântica também pode ser chamada de mal-do-século ou byronista. c. José de Alencar foi o autor capaz de traduzir em versos o ufanismo e caracterizar o índio como herói nacional aos moldes, porém, do cavaleiro medieval europeu. d. Castro Alves possui uma literatura de cunho social e buscava através de sua poesia falar sobre a questão da escravidão.

6. Relacione, em um texto de 3 a 5 linhas, a letra da música abaixo com a 2ª Geração do Romantismo.

Iolanda (Chico Buarque)

Esta canção nao é mais que mais uma canção Quem dera fosse uma declaração de amor Romântica, sem procurar a justa forma Do que lhe vem de forma assim tão caudalosa Te amo, te amo, eternamente te amo

Se me faltares, nem por isso eu morro Se é pra morrer, quero morrer contigo Minha solidão se sente acompanhada Por isso às vezes sei que necessito Teu colo, teu colo, eternamente teu colo

Quando te vi, eu bem que estava certo De que me sentiria descoberto A minha pele vais despindo aos poucos Me abres o peito quando me acumulas De amores, de amores, eternamente de amores

Se alguma vez me sinto derrotado Eu abro mão do sol de cada dia Rezando o credo que tu me ensinaste Olho teu rosto e digo à ventania Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

7. Entre os grandes poetas românticos temos Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias e Castro Alves. Podemos dizer que os três autores possuíam a mesma temática em suas poesias? Justifique sua resposta. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

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