quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sintaxe

A visão da gramática tradicional

Do grego syntaxis (ordem, disposição) o termo sintaxe tradicionalmente remete à parte da gramática dedicada à descrição do modo como as palavras são combinadas para compor senteças, sendo essas descrição organizada sob a forma de regras.
Algumas dessas regras são bem conhecidas. Por exemplo, para um grupo de sentenças como as de (1) a (3):

(1) Diadorim entregou o facão para Riobaldo.
(2) O miguilim eu vi ontem.
(3) Na festa vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga.

A gramática tradicional dirá que (1) exemplifica a ordem direta, natural e predominante dos elementos da frase em português e nas outras línguas românticas – sujeito – verbo –  complementos. Quanto a (2) e (3), constituem, nessa pespectiva, casos de ordem inversa, recurso de estilo que visa especialmente enfatizar um ou outro constituinte.

É  preciso ressaltar ainda que nossas grmáticas se mostram, por vezes, distantes da realidade linguística, porque seu objetivo não é, em geral, descrever a língua em toda a sua complexidade. Elas pretendem apresentar as regras que caracterizam uma das modalidades da língua – a norma culta, ou seja, aquela variedade utilizada em contextos de maior formalidade, que é principalmente escrita e que, na visão tradicional, corresponde à manifestação mais “correta” da língua.

A história da disciplica

É preciso, antes de mais nada, dizer que o desejo de estabelecer a Sintaxe como disciplina linguística independente data apenas no final do século XIX.
A Sintaxe se distingue claramente tanto da Fonologia quanto da Morfologia pela unidade linguística que constitui o seu foco de análise – a senteça. Se o objeto de estudo é, em princípio, o mesmo, nem sempre encontramos consenso entre seus estudiosos sobre a natureza dos processos que ali se desenrolam e a maneira mais adequada de explicá-los.
Apesar das inúmeras diferenças de abordagem, é possível cindir as propostas de análise segundo duas grandes tendências, que constituem as duas vias principais elasquais se têm desenvolvido os estudos linguísticos de um modo geral nesse século. São elas os Formalismo e o Funcionalismo.
No momento em que Saussure propõe a clássica distinção entre langue e parole, ou seja, em que define a existência de um sistema de converções, regras e princípios independente do uso linguístico, instaura a possibilidade de se estudar a linguagem ou de um ponto de vista estritamente formal ou do ponto de vista de suas funções.


A visão funcionalista


A abordagem funcionalista vê a linguagem como um sistema não-autônomo, que nasce da necessidade de comunicação entre os membros de uma comunidade, que está sujeito às limitações impostas pela capacidade humana de adquirir e processar o conhecimento e que está continuamente se modificando para cumprir novas necessidades comunicativas.
Por isso, a análise de um fato linguístico deve levar em  conta tanto o falante quanto o ouvinte e, para além do ato verbal, as necessidades da comunidade linguísticas.
Pensar a Sintaxe segundo uma perspectiva funcionalista implica, então, alargar a análise para além dos limites da sentença.
As soluções funcionalistas para a variação estão não apenas no interior do sistema linguístico, como também fora dele, no ambiente social em que a  língua funciona como veículo de comunicação.

A análise da ordem sob a perspectiva funcionalista

No que diz respeito à ordem dos constituintes na sentença, a postura funcionalista assume a existência de alternativas de ordenação, sem, no entanto, atribuir-lhes nenhum tipo de hierarquia. Concebe-se que os elementos constitutivos da sentença podem ser ordenados segundo diversos padrões, gramaticamente equivalentes. Não há uma ordem primeira, básica, da qual todas as demais derivam, mas sim a coexistência de várias construções.
A existência e a manutenção dessa variação se explicam pelo fato de que vários padrões de ordenação  cumpreem funções comunicativas diferentes. Esse papel discursivo não é entendido como valor estilístico, mas sim como característica essencial de cada padrão. Portanto, também constitui objeto de estudo da Gramática.

Exercícios de compreensão


1. No Dicionário de Linguística, organizado por Jean Dubois, aparece a seguinte definição: “No sentido mais corrente, língua é um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. […] A língua é um produto social, é um contrato coletivo, ao qual todos os membros da comunidade devem submeter-se em bloco, se quiserem se comunicar.”. Em que aspectos a proposta de Calvin rompe com a definição acima?

Resposta: Na proposta de Calvin, a língua deixa de ser um instrumento de comunicação; se os novos significados não forem fruto de uma convenção, de um contrato coletivo, a língua perde o seu caráter de produto social. Se você usará em sala de aula, professor, comente que o significado das palavras está associado a uma convenção ou acordo que permite que determinado grupo o reconheça, possibilitando assim a comunicação. Cada grupo pode criar outra convenção, dando assim diferentes significados para uma mesma palavra. Além disso, ressalte o caráter coletivo da convenção. Por último, exemplifique com significados próprios da linguagem típica de determinados grupos (surfistas, futebolistas, economistas, médicos, adolescentes), também chamada de jargão, e com palavras empregadas no Brasil e em Portugal com diferentes significados.

2. Imaginemos que a ideia de Calvin dê certo e tenhamos duas gerações divididas pelo mesmo idioma. Após algumas décadas, o que aconteceria com o idioma falado pela geração mais velha?

Resposta: Esse idioma desapareceria como prática social, ou seja, ninguém mais faria uso dessa língua em suas relações sociais cotidianas (ela permaneceria apenas como registro, enquadrando-se no que se convencionou chamar de “língua morta”, assim como o latim).

3. Que tipos de linguagem são empregados na carta enigmática?

Resposta: Linguagem verbal (-z; +cio; -ura; +a; etc.) e linguagem não verbal (os desenhos).

4. Que tipos de signos são empregados na carta para a representação das ideias?


Resposta: Símbolos (signos linguísticos) e ícones (desenhos).

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Funções de Linguagem

Jakobson
- o poeta dos linguistas e o linguista dos poetas.
As funções da linguagem são recursos usados para que haja uma comunicação eficiente. Os primeiros estudos dessas funções foram propostos por Roman Jakobson em sua obra Linguística e Comunicação, em 1970.
As funções da linguagem são resumidas em seis tipos:
Função apelativa (ou conativa)
É centralizada no receptor (destinatário). O emissor quer convencer o receptor, influenciar o seu comportamento, com a intenção de convencê-lo ou dar-lhe ordens. É comum o uso dos pronomes tu, você ou o nome da pessoa. Também usa-se vocativos e imperativos. Função comum em discursos, sermões, propagandas políticas e religiosas, figuras de linguagem. Exemplos:
«Você viu como ficou a roupa da Júlia?»
«Lúcia, corre e veja isso!»
«Você deveria ler o artigo que a Folha trouxe sobre os senadores.»
Função emotiva (ou expressiva)
É centralizada no emissor: expressa suas emoções, seus sentimentos, sua opinião. Comum haver interjeições, exclamações, reticências e uso da 1ª pessoa do singular. Uso dos pronomes pessoais. Função comum em autobiografias, cartas de amor, memórias, poesias líricas, etc. Exemplos:
«Júlia, eu te amo muito - não faça isso!»
«Muito obrigada, não esperava surpresa tão boa assim!»
«Não,... não estou triste, mas também não quero comentar o assunto.»
Função referencial ou denotativa
É centrada no referente. O texto oferece informações sobre a realidade. Usa uma linguagem denotativa, direta, objetiva, prevalecendo 3ª pessoa do singular. Aborda fatos concretos. Linguagem comum dos jornais e livros científicos. Por exemplo:
«As sementes da acácia ficam dentro de uma vagem, que deve ser colhida quando estiver com aspecto de palha seca.(...)»
Função fática
Função centrada no canal. Objetiva-se prolongar ou interromper o contato com o receptor, isto é, manter ou não a comunicação. O que se pretende privilegiar não é a comunicação, mas sim, o contato em manter o ouvinte ou o leitor, maior aproximação entre remetente e destinatário. Comum em interjeições, linguagem das falas telefônicas, saudações, propagandas, etc. Ou então, elevar o polegar para dizer que 'tudo continua bem'; a foto do primeiro contato entre celebridades, geralmente flagradas no aperto de mãos, marcando o início da comunicação entre eles. Exemplo clássico:
«- Olá, como vai, tudo bem?
- Alô, quem está falando?»
Função poética
É centrada na mensagem. Preocupa-se com o plano de expressão da mensagem, com sua construção. Uso da linguagem figurada, poética, afetiva, sugestiva, denotativa e metafórica, com fuga das formas comuns. Procura atrair pela estética, pela beleza. Valoriza-se a combinação das palavras. Obras literárias, letras de música, propaganda etc.
«“Lá em cima daquela serra,
passa boi, passa boiada,
passa gente ruim e boa,
passa a minha namorada. ”
Guimarães Rosa
Função metalinguística
  • É centrada no código. Uso da linguagem para explicar a linguagem, ou seja, usa o código para explicar o próprio código. Poesia para explicar a poesia. Um texto que comenta outro texto. Comum nos dicionários, propaganda de propaganda, sinais de trânsito etc. Exemplos:
  • «Não entendi o que é metalinguagem, você poderia explicar novamente, por favor?
    - Metalinguagem é usar os recursos da língua para explicar alguma teoria, um conceito, um filme, um relato etc.»
  • Outro exemplo:
  • «EXOFTALMIA (z ou cs) s.f. Saída do globo ocular para fora da órbita»
Recapitulando:
Os elementos da comunicação

  • emissor - emite, codifica a mensagem.
  • receptor - quem recebe, quem decodifica a mensagem.
  • canal - meio pelo qual circula a mensagem: jornal, livro, revista, folheto, prova.
  • mensagem - conteúdo da comunicação.
  • código - conjunto de signos usados na transmissão e recepção da mensagem: linguagem verbal escrita.

Fonologia

 O linguista suíço Ferdinand de Saussure foi o primeiro a estabelecer que a linguagem humana compreendia dois aspectos fundamentais: a língua e a fala. Para ele, a língua é um produto social, presente na totalidade dos membros de uma comunidade linguística. A fala, por sua vez, é um fato individual, representa uma realização concreta da língua num momento e lugar determinados. Nesse sentido, segundo o autor, o estudo da linguagem comporta duas partes: “uma, essencial, tem por objetivo a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objetivo a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a fonação e é psicofísica.
A língua e a fala não ocorrem separadas, ambas são interdependentes, a língua é ao mesmo tempo o instrumento e o produto da fala. Dessa forma, língua e fala constituem a linguagem humana: a língua representa o código comum de comunicação entre todos os membros de uma comunidade, e a fala é a materialização da língua em situação de uso de cada indivíduo dessa comunidade (Saussure, 1916).

 Na visão saussuriana a língua é um sistema de signos formados pela união do significado e do significante. Quando falamos emitimos uma série de sons, porém esses sons não são realizados de uma mesma maneira por todos os membros de uma comunidade linguística. Do mesmo modo, os sons nunca são produzidos no aparelho fonatório num mesmo ponto articulatório, eles podem estar condicionados por determinados contextos fônicos que os circundam.

Fonética

 A fonética e a Fonologia são as áreas da Linguística que estudam os sons da fala. Por terem o mesmo objetivo de estudo, são ciências relacionadas. No entanto, esse mesmo objetivo é tomado de pontos de vista diferentes, em cada caso.
A principal preocupação da Fonética é descrever os sons da fala. Por exemplo, são afirmações típicas desta ciência dizer que o som é articulado com uma corrente de ar pulmonar, agressiva, com vibração das cordas vocais, com uma obstrução do fluxo de ar seguida de uma explosão; ou descrever a vogal como aquela que tem os dois primeiros formantes mais afastados um do outro; ou dizer que, embora do ponto de vista acústico e articulatório os três as da palavra batata possam ser considerados como realizações um pouco distintas, os falantes de português  reconhecem esses sons como pertencendo à  mesma categoria (vogal a).
 As afirmações anteriores ilustram o fato de a Fonética poder ser feita de três pontos de vista: a)de maneira como eles são produzidos (ou seja, mostrando que movimentos do aparelho fonador estão envolvidos na produção dos sons da fala) – Fonética Articulatória; b) da maneira como eles transmitidos (isto é, a partir das propriedades físicas – acústicas – dos sons que se propagam através do ar) – Fonética Acústica; c) da maneira coo eles são percebidos pelo ouvinte –Fonética Auditiva.
 Por sua vez,  a Fonologia procura interpretar os resultados obtidos por meio da descrição (fonética) dos sons da fala, em função dos sistemas de sons das línguas e dos modelos teóricos disponíveis. Faz parte do trabalho fonológico explicar o porquê de os falantes de alguns dialetos do português do Brasil consideram como sendo o “mesmo som” as consoantes iniciais das palavras tapa e tia, muito embora elas sejam bastante diferentes, articulatória, acústica e perceptualmente.
Dessa forma, enquanto a Fonética é basicamente descritiva, a Fonologia é uma ciência explicativa, interpretativa; enquanto a análise fonética se baseia na produção, percepção e transmissão dos sons da fala, a análise  fonológica busca o valor  dos sons em uma língua – em outras palavras, sua função linguística.

 Para falar, uma pessoa usa mais da metade do corpo: do abdômen até a cabeça. Os linguistas não sabem ao certo onde fica o centro processador da linguagem, mas, tradicionalmente, atribui-se ao cérebro ou à alma. A verdade é que, antes de abrir a boca para falar, uma pessoa necessita planejar o que vai dizer e enviar comandos neuromusculares para que sua fala se realize. Como a linguagem é um composto de ideias e de sons, é preciso organizar as ideias e os sons que irão carrear essas ideias.

Sociolinguística

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano. A história da humanidade é a história de seres organizados em sociedade e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. Efetivamente a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por ninguém, e não deveria estar ausente, portanto das reflexões sobre o fenômeno linguístico. Por que se fala, então, em Sociolinguística? Ou melhor, por que existe uma área, dentro da linguística, para tratar, especificamente, das relações entre linguagem e sociedade – a Sociolinguística? A linguagem não seria, essencialmente, um fenômeno da natureza social? As respostas a questões como essas não são tão obvias. Para responde-las, é preciso considerar razoes de natureza histórica, mais precisamente, o contexto social mais amplo em que se situam aqueles que se dedicam a pensar o fenômeno linguístico. Assim, inicialmente, é necessário levar em conta que os estudiosos do fenômeno linguístico, como homens de seu tempo, assumiram posturas teóricas em consonância com o fazer cientifico da tradição cultural em que estavam inseridos. Nesse sentido, as teorias de linguagem, do passado ou atuais, sempre refletem concepções particulares de fenômeno linguístico e compreensões distintas do papel deste na vida social. Mais concretamente, em cada época, as teorias linguísticas definem, a seu modo, a natureza e as características relevantes do fenômeno linguístico. E, evidentemente, a maneira de escreve-lo e analisa-lo.

Língua e Linguagem - Introdução


A comunicação é uma característica inerente a todos os seres, o que lhes permite viver em sociedade, compartilhar experiências, interagir com as diferentes culturas e manifestar sentimentos diversos.

Em se tratando da linguagem, ela está diretamente ligada à capacidade humana formada por leis combinatórias e signos linguísticos materializados pela mensagem.

Contudo, há também outras formas de manifestarmos a linguagem, ou seja, por meio de gestos, por um olhar, pela música, dança, pelas obras de arte, como a cultura, escultura e pelos símbolos. Quando nos referimos a eles, remetemo-nos à ideia da linguagem não verbal, constituída pelos sinais gráficos, cuja interpretação requer do interlocutor, conhecimentos linguísticos e conhecimentos adquiridos ao longo de sua existência.

Podemos observar nas imagens alguns exemplos:




De modo a tornar efetiva a linguagem verbalizada, esta condiciona-se a dois fatores: à língua e à fala. A língua é fator resultante da organização de palavras, segundo regras específicas e utilizadas por uma coletividade.

Como código social, a língua não pode ser modificada arbitrariamente, em função destas regras preestabelecidas. Tal organização tende a corroborar para que o enunciado seja manifestado de forma clara, objetiva e precisa.

Esta organização básica do pensamento, opiniões e ideias subsistem em uma capacidade proferida por um modo mais individual. Tal afirmativa parte do pressuposto de que cada ser humano é único e que, para ser compreendido, não precisa se expressar igual aos outros. Cada um expõe seus sentimentos e revela sua maneira de ver o mundo de forma subjetiva, caracterizando, desta forma, a fala.

Enfim, todo este processo resulta no ato comunicativo como sendo uma experiência cotidiana, pois estamos a todo o momento remetendo e recebendo mensagens, as quais limitam-se a infinitas finalidades: informar, aconselhar, persuadir, entreter, expor opiniões, dentre outras.

A Linguística é que estuda os campos de língua e linguagem, e nos dias de hoje, conta com uma vasta bibliografia de estudos no campo, desde textos mais introdutórios até textos de grande especificidade e aprofundamento. Os textos introdutórios já existentes são, sem dúvida alguma, bastante esclarecedores. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

INTRODUÇÃO


  O presente trabalho, objeto das atividades práticas supervisionadas, apresenta um resumo dos componentes modulares das aulas da disciplina de Linguística Geral.



CONTEÚDO COMPLEMENTAR 1:
LINGUÍSTICA: CONCEPÇÃO E ORIGEM / O FENÔMENO
GERAL DA LINGUAGEM.


     A Linguística é uma ciência que busca estudar os aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos, e fonéticos da linguagem verbal, escrita e oral humana, termo este atualmente utilizado, mas que só pode ser considerada uma ciência no início do século XX.
     A Linguística é uma ciência objetiva e descritiva, ao qual busca examinar, analisar e descrever os fatos linguísticos como elas são utilizadas pelos falantes ignorando o padrão de certo ou errado, e explicativa por procurar explicações para os fatos linguísticos, portanto a Linguística tem por objetivo descrever e explicar a linguagem que se manifesta por meio das línguas naturais.
    Segundo o linguista John Lyons, a Linguística possui duas vertentes de estudo, a primeira denominada por ele como ''A Linguística Moderna'', que toma a linguagem humana por objeto de análise dispensando todos os seus preconceitos sociais ou culturais, a segunda vertente nomeada por ''Gramática Tradicional'' esta que sempre esteve ligada a filosofia e à critica literária e, por essa razão, acabou por dar maior primazia a linguagem escrita sobre a linguagem oral.  A Gramática Tradicional, estipulava padrões para a linguagem de ''certo'' ou ''errado'', sendo assim qualquer mudança, por se afastar do padrão estabelecido como correto, implica, necessariamente, corrupção da língua.


CONTEÚDO COMPLEMENTAR 2:
LINGUÍSTICA: DIACRONIA – SINCRONIA DA LÍNGUA


      A Linguística utilizava-se do método histórico comparativo, também denominada por Saussure como estudo diacrônico, para estudar os fenômenos da língua ou linguagem, mas foi Saussure que possibilitou um novo método ao estudo da linguagem ao qual ele denominou diacronia e sincronia.  A distinção entre o estudo diacrônico e sincrônico foi estabelecida por Saussure. Por estudo diacrônico entende-se o estudo e a análise de uma língua em seu processo de transformações históricas, ou seja, o estudo de uma língua através de sua evolução histórica. Assim foram os estudos da Linguística histórica comparativa, do século XIX, como exposto acima.
    Para Saussure, a Linguística deveria dar prioridade aos estudos sincrônicos, ignorando assim as transformações que antecederam e antecederam o es tudo de uma língua.
    O estudo sincrônico é o estudo de uma língua em um determinado período, como se fosse estática, imóvel, ignorando suas transformações.
  Um exemplo de análise sincrônica e diacrônica seria a palavra ''comer'' da língua portuguesa:
     Em uma análise sincrônica, verifica-se que o “com” é um elemento linguístico que se define em relação a outros elementos linguísticos do português brasileiro.  Assim, ao se constatar que esse elemento aparece em outros contextos como “comilança”, “comida”, “comeu” verifica-se que ele se define como um radical, entendendo-se por radical aquele elemento da estrutura das palavras cognatas que expressa um significado comum.

    Em uma análise diacrônica, verifica-se que o verbo “comer” resulta da combinação do verbo comer em latim “edere”, em que ed é o radical, e o prefixo cum que significa companhia. Assim:

             cum + edere > cumedere > comer, na língua portuguesa.




CONTEÚDO COMPLEMENTAR 5:
ESTRUTURALISMO E O MÉTODO DESCRITIVO DE ANÁLISE. ESTRUTURALISMO AMERICANO / BEHAVIORISMO / AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM.


     Os estudos linguísticos anteriores tomaram vários rumos, surgindo assim, outras abordagens de estudo e análise da língua tais como: a Gramática Tradicional e o Estruturalismo Americano.
     A primeira abordagem (Gramática tradicional), termo de significado diferente do utilizado atualmente, possui nomeações como gramática tradicional, prescritiva ou normativa, cujo o foco de estudo sempre foi a tentativa de ordenar em uma ordem lógica ao idioma e de considerar normas determinantes ao uso da mesma. Nessa abordagem eram estabelecidas regras, normas e padrões gramaticais para o uso da língua/ou linguagem, levando-se em consideração somente a forma correta e padronizada da língua, desconsiderando assim, as variedades e diversidades da língua.
    A segunda abordagem (Estruturalismo Americano) que entendia por língua, um sistema articulado em que todos os elementos estão interligados. Para o estruturalismo, a descrição dos fatos da língua é uma explicação de seu funcionamento, já que envolve descrever os elementos do sistema e as relações estabelecidas entre eles. o objeto de estudo dessa abordagem portanto era a linguagem como ela é efetivamente falada, sem apreciação de valor, objeto de estudo diferente da abordagem da gramatica tradicional pois, para esta seria os bons textos escritos.
Leonard Bloomfield é o mais influente linguista estruturalista americano.  Foi influenciado ao longo de sua carreira pelo behaviorismo, uma corrente da psicologia baseada no estudo objetivo do comportamento. Bloomfield adotou os princípios do behaviorismo e, para ele, a língua funcionava como qualquer outro comportamento humano em termos de resposta a um estímulo.
     Os estruturalistas norte-americanos, com base nos estudos da psicologia behaviorista, acreditavam que o estudo de uma língua deveria ser feito a partir de um grande número de dados, ou seja, de um corpus diversificado e com
muitos dados, de tal modo que fosse possível a análise de grande número de frases produzidas por falantes da língua considerada, não importando a classe social desses falantes. O objetivo desse tipo de análise era descrever as regularidades existentes na fala das pessoas.
   Para Bloomfield, a linguagem é essencialmente fala, oralidade. Nesse sentido, a linguística norte-americana segue a tradição saussuriana.  O objeto de estudo da linguística, também para esse autor, consiste na linguagem em todas as suas manifestações.  O que interessa nos estudos da linguística é o conjunto de aspectos que são comuns a todos os falantes.
    A aquisição da linguagem segundo Bloomfield, tem por base a psicologia behaviorista ou comportamentalista de estímulo (E) e resposta (R).
                                            E   R


    Bloomfield exclui alusões à significação ou a semântica, para ele não interessava os significados das palavras.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Teorias do texto
Conteúdo 2: O nascimento de uma Linguística do Texto: da frase ao texto - as três fases de construção da Linguística Textual.
É de suma importância pensar a estrutura do texto como uma unidade de análise linguística. Por mais que pareça óbvio entender o texto como unidade de análise linguística e por mais que se faça evidente a necessidade de estudá-lo em sua estrutura e construção, desvendando o seu processamento, organização, modalidades e gêneros, é bom lembramos de que isso nem sempre foi um consenso e que tais ideias nem sempre foram aceitas.
O campo científico, Linguística Textual, nasce de um intenso esforço teórico que defende que, toda a Linguística é uma Linguística de Texto. Opõe-se  ao campo da teoria estrutural, que teve seu período e reconhecimento ao final do século XIX até metade do XX. 
Devido seu sucesso, a Linguística Estrutural acabou chamando a atenção de outros olhares teóricos também relacionados à linguagem para além do formalismo estruturalista (história, antropologia, sociologia, etnometodologia, psicologia etc) e cresceu ainda mais a necessidade de ampliar seus domínios, bem como o interesse em sanar possíveis lacunas e insuficiências dessa ciência piloto, afinal uma ciência nunca está fechada, pronta e acabada! A partir da década de 60, surgem rupturas na fronteira com o Estruturalismo linguístico e dissidências se fazem, constituindo novos campos teóricos da linguística, na maioria deles em franca ruptura com algumas das ideias do estruturalismo linguístico, por exemplo: a sociolinguística, etnolinguística, psicolingüística, neurolinguística, pragmática, análise da conversação, análise do discurso, semântica, gramática gerativo-transformacional e especialmente aqui a Linguística Textual, entre outros campos.

A seguir, estão presentes os principais problemas e insuficiências deixadas pela Linguística Estrutural:

·         Dicotomia Língua x Fala (e desconsideração da Fala) 
·         Desconsideração dos aspectos Extralinguísticos
·         Autonomia do objeto de estudo (Língua)
·         Desconsideração do Sujeito (desconsideração da Fala, portanto, do Falante)
·         Unidade de análise centralizada na Frase
·         Separação do Enunciado de sua Enunciação
·         Pouco caso relegado ao estudo da Significação e do Sentido entre outras questões de igual modo importantes.

Na busca por alcançar os objetivos acima, em sua constituição, a LT passou por três fases de desenvolvimento. Não houve um desenvolvimento exatamente homogêneo dessas três fases. Os estudos acerca do texto desenvolveram-se e ampliaram-se em diferentes países dentro e fora da Europa (destaque-se a produção norte-americana, germânica e anglo-saxão), mais ou menos à mesma época e com preocupações teóricas variadas. Assim, é importante perceber que não houve precisamente uma sucessão cronológica na transposição de uma fase à outra. O que melhor caracteriza a mudança de uma fase para a outra é muito mais a ampliação e aprofundamento gradual dos estudos da LT, marcando cada vez mais fortemente o seu afastamento em relação à Linguística Estrutural. Estas três fases da LT costumam ser conhecidas como:


1a. Fase Transfrástica: Vai além dos limites da frase. Esta fase volta-se para os fenômenos linguísticos que nunca foram bem explicados pelas teorias formalistas limitadas ao nível da frase. 
2a. Fase da Gramática Textual: Essa fase apoiou-se no objetivo de criar gramáticas textuais. Mesmo considerando-se já um bom desenvolvimento nas investigações da LT, acreditava-se ser o texto um sistema uniforme, estável e abstrato
3a. Fase da Teoria do Texto: “Investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso [adquirindo] particular importância ... [o] seu contexto pragmático [ou seja,] o conjunto de condições externas da produção, recepção e interpretação dos textos.” (BENTES, op.cit., p.251).

O conceito de Texto também evoluiu. Observem-se as características principais que constituem as concepções de texto predominantes em cada fase.
 I. Em um primeiro momento (Fase Transfrástica), o texto é concebido como:
·         “uma sequência pronominal ininterrupta” (dada a ênfase na questão da co-referenciação)
·         “uma sequência coerente de enunciados”
·         “forma de organização do material linguístico”
·         “unidade linguística superior à frase”
 II. Em um segundo momento (Fase da Gramática Textual), o texto é concebido como:
·         “complexo de proposições sintático-semânticas” (apresenta um conjunto de conteúdos)
·         “estrutura pronta e acabada” que obedece a uma estrutura formal articulada estritamente a partir de sete fatores de textualidade: Coesão, Coerência, Aceitabilidade, Informatividade, Situacionalidade, Intertextualidade e Intencionalidade.
·         “produto de uma competência linguística idealizada” (ênfase no aspecto formal do texto – extensão e constituintes)
·         “maior unidade linguística com sequência coerente e consistente de signos linguísticos.”
 III. Em um terceiro momento (Fase da Teoria do Texto), a noção de texto é completamente revista. A Teoria do Texto não considera a possibilidade do “não texto”, primeiramente por ser ilógico conceber uma sequência linguística incoerente em si. Se há uma sequência linguística, certamente há uma lógica.

Vejam-se três definições de texto de diferentes autores:

Bakhtin (1929) – “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra se apoia sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor”.
Koch (1997a) – “Poder-se-ia, assim, conceituar o texto, como uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais”.
 Marcuschi (1983) – “Proponho que se veja a Linguística do Texto, mesmo que provisória e genericamente, como o estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais. Seu tema abrange a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos, a coerência conceitual ao nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações ao nível pragmático da produção do sentido no plano das ações e intenções. Em suma, a Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Por um lado, deve preservar a organização linear que é o tratamento estritamente linguístico, abordado no aspecto da coesão e, por outro lado, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear: portanto, dos níveis do sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas”.






Conteúdo 3- Construindo sentidos no texto: organização estrutural e processamento textual
Algumas das principais categorias teóricas de análise relacionadas à organização estrutural, às estratégias de processamento e funcionamento e ao contexto interacional. Essa descrição será topicalizada das seguintes maneiras:
Processamento textual – o texto deve sempre ser entendido como um processo. O processamento textual acontece através de sistemas de conhecimento acionados no texto e no contexto de produção. Na produção textual, toda ação (fazer) é necessariamente acompanhada de processos de ordem cognitiva, de maneira que o sujeito dispõe de modelos e tipos de operações mentais. Os interlocutores, na comunicação, dispõem de saberes acumulados sobre os diversos tipos de atividades da vida social, eles têm conhecimentos na memória que precisam ser ativados para que a atividade seja efetivada com sucesso. Tais atividades geram expectativas e isso compõe um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.Três grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual: A) Conhecimento linguístico. B) Conhecimento enciclopédico ou de mundo. C) Conhecimento interacional.
Organização estrutural – de modo geral, alguns autores, como por exemplo, Dijk (2000), Koch (1997a), Fávero (1995) e Kleiman (2004), orientam uma organização textual a partir de três níveis estruturais, inter-relacionáveis entre si: Superestrutural (ou de nível global, com ênfase nas relações esquemático-cognitivas), Macroestrutural (ou de nível semântico nas relações de coerência textual) e Microestrutural (ou de nível de superfície linguística, com ênfase nas relações de coesão textual).
Quanto ao nível SUPERESTRUTURAL, este se refere tanto às estruturas textuais globais que permitem o reconhecimento dos gêneros ou tipos (ver exemplos abaixo), como também envolve o conhecimento sobre estratégias esquemáticas cognitivas relacionadas à significação global da base textual. São estratégias facilitadoras na produção/recepção de textos que acionam na memória o conhecimento armazenado, através de modelos globais como, esquemas, frames scripts e planos.
Quanto ao nível SUPERESTRUTURAL, este se refere tanto às estruturas textuais globais que permitem o reconhecimento dos gêneros ou tipos (ver exemplos abaixo), como também envolve o conhecimento sobre estratégias esquemáticas cognitivas relacionadas à significação global da base textual. São estratégias facilitadoras na produção/recepção de textos que acionam na memória o conhecimento armazenado, através de modelos globais como, esquemas, frames scripts e planos. A coerência textual é considerada fundamental para a textualidade, pois dela depende em grande parte o sentido do texto. A construção da coerência textual depende da organização tentacular de fatores de diversas ordens: linguísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais e pragmáticos.
Quanto ao nível MICROESTRUTURAL, este se refere às relações coesivas lineares que dizem respeito ao modo como os elementos presentes na superfície textual estão interconectados. Diferentemente da coerência, a coesão diz respeito à estrutura formal do texto. Trata da manifestação lingüística da coerência e apresenta-se na forma como conceitos e relações subjacentes são expressos no texto. A coesão é construída através de mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos, catafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções, etc.), que definem as relações entre frases e seqüência de frases e no interior das mesmas, e lexicais, através da reiteração, da substituição e da associação.
Conteúdo Complementar 4: 

1         Outras teorias cujo objeto de estudo é o texto

Como é sabido, além da Linguística Textual, também houve outros lugares de ruptura com o estruturalismo linguístico o que culminou na gênese de novos campos de investigação. Assim, como a LT, muitos desses campos também apresentam o texto (e não a frase) como objeto de estudo. Muitos desses campos também apresentam o texto (e não a frase) como objeto de estudo. Nesse sentido, serão apresentados aqueles campos mais representativos.

I. SOCIOLINGUÍSTICA

Esta área investiga a relação entre linguagem e sociedade, através dos textos e postula o princípio da diversidade linguística. Nesse sentido, já é fácil notar o seu perfil interdisciplinar. Ela inscreve-se na corrente das orientações teóricas contextuais e funcionais sobre o fenômeno linguístico não apenas sob o ângulo das regras de linguagem, mas também sob a perspectiva das relações de poder manifestadas na e pela linguagem.

Seu interesse está em relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade, pois o objeto da Sociolinguística é a diversidade linguística. Nesse sentido, é possível identificar certos fatores socialmente definidos, relacionados à diversidade linguística como:

É possível identificar certos fatores socialmente definidos, relacionados à diversidade linguística como:

¨Identidade social do emissor ou falante.

¨Identidade social do receptor ou ouvinte.

¨O contexto social (estilos formal e informal).

¨O julgamento linguístico-social distinto que os falantes fazem de si e dos outros.

É importante salientar ainda que a Sociolinguística diz respeito prioritariamente ao estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comunidade linguística. Ela se interessa pelas pesquisas voltadas, por exemplo, para as minorias linguísticas e para a questão do insucesso escolar de crianças oriundas de grupos sociais desfavorecidos.

Para a Sociolinguística a língua é um fato social, um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social, de onde se podem abstrair as múltiplas variações observáveis da fala:

¨Uma língua varia em relação a outra ou outras línguas, ou seja, as línguas variam entre si.

¨Uma mesma língua falada em países diferentes varia de um país para outro onde seja falada.

¨A língua falada em um país varia de região para região neste país.

¨A língua falada em um país varia de comunidade de fala para comunidade de fala neste país.

¨A língua falada em um país varia em diversos aspectos: étnico, etário, social, sexual, econômico, profissional, cultural etc.

¨A língua varia até em um mesmo indivíduo em relação aos seus diferentes níveis de formalidade e situações linguísticas.

¨A língua pode variar em diferentes níveis (Lexical, Morfológico, Sintático, Fonético e Semântico).

II. PRAGMÁTICA

A Pragmática analisa, de um lado, o uso concreto da linguagem, com vistas em seus usuários, na prática linguística e, de outro lado, estuda as condições que governam essa prática. Ela pode ser apontada como a ciência do uso linguístico, cuja preocupação é antes com a Linguagem que com a Língua. Nesse sentido, também se afasta dos pressupostos estruturalistas (de F. Saussure).

A Pragmática defende a não centralidade da língua em relação à fala. Esta área aposta nos estudos da linguagem, considerando a Fala e não observa a Língua isolada de sua produção social. Os estudos pragmáticos pretendem definir o que é linguagem e analisá-la (através de textos) trazendo para a definição os conceitos de ‘sociedade’ e de ‘comunicação’, descartados pela Linguística saussureana na subtração da fala (e do falante).

O recorte de análise da Pragmática não está reduzido a fatos delimitados e convencionais da língua como sistema (inato), mas sim, trabalha a partir de indícios de funcionamento da linguagem, mesmo que isso implique em visualizar erro, exceção, licença poética!

Podem ser apontadas como as principais correntes pragmaticistas as seguintes:




O Pragmatismo Americano é
Foi desenvolvido por W. James & Morris sob forte influência dos estudos semiológicos de Charles Peirce, enfatiza a inclusão do sujeito na construção do sentido e desconstrói a noção clássica de Verdade.






Os Estudos dos Atos de Fala é
São influenciados pela Filosofia da Linguagem (Wittgenstein) e alavancados por Jonh L. Austin, enfatizam a performatividade da linguagem, cuja definição estaria diretamente relacionada à ação e interação. É grande a ênfase nas categorias de enunciados constativos e performativos; nos atos loucionais, ilocucionais e perlocucionais; e nas regras conversacionais que regem o princípio da cooperação na linguagem.


Os Estudos da Comunicação é
Integram ambos os interesses teóricos anteriores, mas acrescentam ainda o interesse pelas questões sociais e históricas em que priorizam as relações sociais, de classe, de gênero, de raça e de cultura.


Das três vertentes supracitadas, a que tem maior repercussão historicamente é a Teoria dos Atos de Fala. Então, aprofundando os estudos dos atos de fala, é importante destacar alguns tópicos, conforme sintetiza Pinto, 2007:

  1. A discussão sobre a “teoria dos atos de fala” foi aberta para debater como as construções gramaticais podem levar a confusões lógicas entre filósofos. Nesse contexto, J. Austin foi quem melhor se destacou na exposição dos problemas, discutindo a materialidade e historicidade das palavras.

“Seus estudos procuraram refletir sobre a possibilidade de uma teoria que explicasse questões, exclamações e sentenças que expressam comandos, desejos e concessões. A Teoria dos Atos de Fala, que tem por base conferências de Austin publicadas postumamente em 1962 sob o título How to do things with Word (Austin, 1990), concebe a linguagem como uma atividade construída pelos/as interlocutores/as, ou seja, é impossível discutir linguagem sem considerar o ato de estar falando em si – a linguagem não é assim descrição do mundo, mas ação”. (PINTO, op.cit.:57).

  1. Inicialmente, na Teoria dos Atos de Fala, um dos pares conceituais mais importantes é a distinção entre os enunciados:

·Performativos – que realizam ações porque são ditos – “Eu vos declaro marido e mulher em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

·Constativos – que realizam apenas uma afirmação, constatação – “A mosca caiu na sopa”.

A análise dos contrastes entre esses tipos de enunciados, o performativo e o constativo, levou Austin a prosseguir no raciocínio e aventar a separação de níveis de ação linguística através de enunciados. (cf. PINTO, op.cit, 58). Esses níveis de ação agem simultaneamente no enunciado e Austin os denomina:

·Atos Locucionários – os que dizem alguma coisa – “Eu vou estar em casa hoje”: tem a ver com o conjunto de sons que se organizam para efetivar um significado referencial e predicativo, pois efetiva uma sentença sobre o eu.

·Atos Ilocucionários – os que refletem a posição do locutor em relação ao que ele diz – “Eu vou estar em casa hoje”: é a força que o enunciado produz que se tipifica em pergunta, afirmação, promessa, ameaça, ordem, pedido etc.

·atos Perlocucionários – os que produzem certos efeitos e consequências sobre o interlocutor, sobre o próprio locutor ou sobre outras pessoas – “Eu vou estar em casa hoje”: é o efeito produzido na pessoa que ouve o enunciado, por exemplo, sendo efeito de agrado, de medo, de ameaça, transformando-se em ação.

  1. Os atos de fala podem trazer ambiguidades em suas interpretações, pois um enunciado pode tanto ser entendido como uma ordem, como uma ameaça ou como um pedido – “A porta está aberta”. Assim, é importante considerar sempre o contexto, a situação de fala entre os falantes em questão e mesmo assim os limites da análise linguística muitas vezes não encontram muita exatidão... Austin dedicou-se principalmente aos verbos performativos prometer, declarar, batizar, casar, ordenar, pedir etc, causando grande furor inicialmente frente à impossibilidade, atestada por ele próprio, de manter a distinção entre os valores de verdade falsidade para esses enunciados (atacando assim os semanticistas formais, lógicos).
  1. Questionado em 1958 por um filósofo que dizia que o enunciado performativo poderia sim ser verdadeiro ou falso, Austin respondeu com ironia:
“Pode-se dizer que um ato é útil, que é conveniente, que ele é mesmo sensato, mas não se pode dizer que ele seja true or false. Qualquer que seja ele, tudo que posso dizer é que os enunciados desse tipo são muito mais numerosos e variados do que se acreditava”. (AUSTIN Apud PINTO, op.cit.:59).

Nesse famoso debate, para insistir na impossibilidade dos enunciados performativos serem considerados verdadeiros ou falsos, Austin ousadamente destitui a própria noção de constatividade que ele mesmo havia postulado antes e mostra que enunciados aparentemente constativos são de fato performativos, como “Eu te digo para fechar a porta” ou “A mosca caiu na sopa”. Ele inclusive declara a insustentabilidade de enunciados constativos, afirmando que o constativo nada mais é do que um performativo mascarado.

  1. Em 1981, com sua obra Speech acts, John Searle se dedica a interpretar, reorganizar e dar um acabamento à obra de Austin, firmando a Teoria dos Atos de Fala como importante corrente da Lingüística. Outros autores como Derrida e Ducrot também se dedicaram a ler e problematizar a obra de Austin, apontando para outras faces de análise da linguagem que não estivessem presas necessariamente à experiência empírica e seus níveis de ação, valorizando aspectos mais históricos, ideológicos, estruturais e argumentativos.


III. ANÁLISE DO DISCURSO

A Análise do Discurso francesa (doravante AD) surgiu na França, nos anos 60 para suprir as insuficiências da análise de conteúdo das ciências humanas, que concebia o texto em sua transparência, como projeção da realidade no mundo (extradiscursivo) sem considerar as ligações linguísticas e textuais. A AD, ao contrário, considera o texto em sua opacidade, enfatizando o funcionamento linguístico-textual dos discursos no contexto histórico-social. Conforme Maingueneau, 1987, subjazem à Análise do Discurso três práticas:

1. Tradição filológica – história e reflexão sobre os textos (instrumento para História, antropologia, filosofia).

2. Prática da explicação de textos – teoria da leitura (contexto universitário na França).

3. Base no estruturalismo que via o texto em sua imanência diferenciado dos modos de estudo da filologia.

A linguística de Saussure era insuficiente por não dar conta da linguagem linguisticamente, incorporando a sua “exterioridade”, sua condição social, histórica e ideológica. Pêcheux concebe a AD apoiando-se criticamente em Saussure, mesmo que reconhecendo nele o ponto de origem da ciência linguística – Fonologia, Morfologia, Sintaxe. Mas afirma que, o estruturalismo saussureano não dá conta da Semântica discursiva e suas condições sócio-históricas.

O quadro epistemológico do nascimento da AD é marcado pela presença do materialismo histórico, da linguística, como processos sintáxicos e de enunciação, e da teoria do discurso como teoria dos processos semânticos. A esse quadro deve-se acrescentar, ainda, o apoio teórico buscado no seio da psicanálise freudiana, através de Lacan. A AD tenta mostrar a inconsistência dos textos no trabalho ideológico como ‘ilusão’, desmistificando esse processo.

Além da influência de Althusser há também a influência de Foucault na AD. Foucault concebia o discurso como dispositivo enunciativo e institucional de diferentes práticas discursivas.

[ATENÇÃO]
Hoje não se pode falar em uma escola de análise do discurso francesa, mas em várias. Houve um deslocamento do discurso político para qualquer tipo de produção verbal. A AD passou a fazer fronteira interdisciplinar com outras disciplinas: sociolinguística, etnolinguística, análise conversacional, teorias da argumentação, da comunicação etc. Há uma proliferação do emprego da expressão “análise do discurso” o que pode causar uma certa confusão.

O objetivo da AD é apreender a linguagem enquanto discurso, materializando o contato entre o linguístico e o não-linguístico. O que interessa é construir o ‘olhar-leitor’ – a ação estratégica do sujeito.

A AD relaciona-se com textos produzidos em determinadas Formações Discursivas:

·no quadro de instituições que restringem fortemente a enunciação;

·nos quais se cristalizam conflitos históricos, sociais, etc;

·que delimitam um espaço próprio no exterior de um interdiscurso limitado. 
O domínio da AD, mesmo “restrito” desta forma, permanece ilimitado – discurso jurídico, religioso, etc., ou discurso narrativo, didático..., ou ainda, imprensa socialista, manifestos feministas... questões que atravessam essa ou aquela coletividade em dada conjuntura. Daí se constata a possibilidade de construção de uma infinidade de objetos de análise.

Sobre a relação do objeto com os mecanismos de análise, todos os fenômenos linguísticos a priori são passíveis de investigação pela AD.

“Frente a um corpus, o pesquisador a priori não tem nenhuma razão determinante para estudar um fenômeno em detrimento de outro, da mesma forma que nada o obriga a recorrer a um determinado procedimento ao invés de a qualquer outro. Se, para atingir seu propósito, ele se interessa, por exemplo, pelos adjetivos avaliativos, por metáforas ou por algumas estruturas sintáticas, isto ocorre unicamente em virtude de hipóteses... É o fato de levar em conta a singularidade do objeto, a complexidade dos fatos discursivos e a incidência dos métodos de análise que permite produzir os estudos mais interessantes.” (MAINGUENEAU, op cit, p.18-19).


O analista deve esquematizar as referências linguísticas em que se baseia e esclarecer ao leitor que pretende aprofundar tais questões nos textos que deseja analisar.

A partir da crítica feita à dicotomia saussureana língua e fala, o conceito de discurso se firma na associação de regularidades linguísticas às suas condições de produção, constituindo o falante em sujeito assujeitado.

Atualmente os estudos discursivos concebem o discurso, de modo geral, como a prática social de produção de textos. Todo discurso é um construto social, não individual e analisável apenas a partir de suas determinações sociais históricas e ideológicas.

A Análise do Discurso (de linha francesa) é uma prática e uma área da Linguística e da Comunicação que se particulariza por analisar formações ideológicas através de textos. É muito utilizada para a análise de textospolêmicos, relacionados aos contextos político, pedagógico, religioso, jurídico, científico, midiático e também artístico, de protesto, ou ainda que evidencie minorias marginalizadas, em busca das ideologias que trazem em si. Sua orientação teórica prioriza o estudo da estrutura e acontecimento discursivos em seus processos formadores, bem como a determinação social histórica e ideológica do/no discurso. (Cf. Indursky, 2006).

Saiba mais:

Algumas das categorias teóricas da Análise do Discurso mais importantes são:

É Ideologia e Condições de Produção do Discurso.

É Formações Discursivas, Formações Ideológicas e Formações Imaginárias.

É Intertextualidade, Interdiscursividade e Intradiscursividade.

É Paráfrase, Polissemia e Efeitos de Sentido.

É Dialogismo, Polifonia e Intertextualidade.

É Subjetividade e identidade: sujeitos e sentidos.

Obs.: O estudo das valorações discursivas desvela os processos de formações ideológicas, de formações discursivas e de interdiscursividades que se entremeiam na produção dos sentidos e na constituição dos sujeitos. Observar os aspectos teórico-metodológicos do Discurso como: os efeitos de leitura, de autoria e de sentido, as noções de dialogismo e polifonia na linguagem, a questão da argumentação e do uso da língua, constituem uma importante ferramenta para um conhecimento mais amplo e articulado da linguagem.

IV. SEMIÓTICA DISCURSIVA

A Semiótica aponta o texto, e não a palavra ou a frase, como seu objeto de estudo e procura explicar os sentidos do texto a partir de certos mecanismos e procedimentos de construção do sentido. (Cf. Indursky, 2006). Esses mecanismos e procedimentos dizem respeito a:


É a organização linguístico-discursiva.

É as relações com a sociedade e com a história.


O texto pode ser tanto um texto linguístico quanto um texto visual, olfativo ou gestual, ou, ainda, um texto em que se sincretizam diferentes expressões, como nos quadrinho, nos filmes ou nas canções populares. Esta teoria interessa-se pela análise do Plano de Conteúdo do texto e busca construir a sua significação a partir de Percurso Gerativo dos Sentidos.

Este Percurso Gerativo dos Sentidos possui três grandes níveis de análise: o Nível Fundamental; o Nível Narrativo; e o Nível Discursivo.

PERCURSO GERATIVO DOS SENTIDOS



Nível Fundamental
é o nível mais abstrato e simples. Os sentidos são entendidos pelas categorias de oposição semântica. Os termos são determinados por ‘relações sensoriais’ e considerados atraentes ou repulsivos, tensos ou relaxados, negados ou afirmados através das categorias ou determinações Tensivo-Fóricas.



Nível Narrativo
é o nível em que se introduz o sujeito. Nele ocorrem transformações narrativas operadas pelo sujeito. As categorias semânticas fundamentais tornam-se valores dos sujeitos e são ‘inseridas’ nos objetos com que o sujeito se relaciona. As determinações tensivo-fóricas convertem-se em modalizações que modificam as ações e os modos de existência do sujeito e suas relações com os valores.



Nível Discursivo
é o nível em que a narrativa é colocada no tempo, no espaço junto de seus sujeitos, objetos, destinadores e destinatários. Os personagens do texto tornam-se atores do discurso, graças a investimentos semânticos e de pessoa, os valores dos objetos vão ser disseminados como temas e transformados sensorialmente. Essas transformações produzem efeitos de sentido e fabricam a ilusão da verdade.



V. ESTUDOS ENUNCIATIVOS

Partindo do princípio de que a produção de sentidos na linguagem não se verifica em relação ao estado de coisas, mas se realiza a partir das enunciações anteriores e no acontecimento enunciativo, faremos algumas observações sobre o fenômeno da enunciação. Para isso, observaremos algumas reflexões bakhtinianas sobre a enunciação e polifonia, as considerações de Benveniste sobre a enunciação, os dispositivos teóricos concernentes à teoria polifônica ducrotiana, além de considerações a respeito da Semântica Enunciativa do Acontecimento de E. Guimarães.

Bakhtin legou-nos uma importante trilha de reflexões a respeito da polifonia e da enunciação, defendendo o dialogismo constitutivo da linguagem e a natureza social da enunciação. Para ele, a enunciação é o produto da interação dos indivíduos socialmente organizados e, ainda que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. O termo “diálogo” deve ser entendido num sentido amplo, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas como toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. “A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros” e em todo enunciado descobriremos que está o outro em diferentes graus de alteridade. Existe uma gama dos gêneros mais difundidos na vida cotidiana, tão cristalizados, apresentando formas tão padronizadas (por exemplo, os provérbios), que a expressão individual do locutor praticamente só pode manifestar-se na própria escolha do gênero. As palavras não são de ninguém, estão a serviço de qualquer locutor e de qualquer juízo de valor, e podem mesmo ser totalmente diferentes, até mesmo contrárias. Conforme Bakhtin, em relação às fórmulas estereotipadas da vida corrente, os sistemas ideológicos constituídos da moral social, da ciência, da arte e da religião cristalizam-se a partir da ideologia do cotidiano, exercem por sua vez sobre esta, em retorno, uma forte influência e dão assim normalmente o tom a essa ideologia.

E. Benveniste afirma que a enunciação coloca em funcionamento a língua por um ato individual de utilização, por parte de um locutor que mobiliza a língua por sua conta: é o ato mesmo de produzir um enunciado. A enunciação se caracteriza pela realização vocal da língua, supõe a conversão individual da língua em discurso (a semantização da língua) e apresenta caracteres formais próprios a partir da manifestação individual que ela atualiza. Tal mobilização e apropriação da língua são, para o locutor, a obrigatoriedade de referir pelo discurso e para o outro: “a referência é parte integrante da enunciação”. A emergência dos índices de pessoa (EU/TU) só se produz por meio da enunciação. Como diz o autor, o presente é propriamente a origem do tempo. A enunciação cria entidades na rede de indivíduos em relação ao “aqui-agora” do locutor. Em relação à estrutura do diálogo na enunciação, o autor defende a possibilidade de haver enunciado sem diálogo (portanto sem locutor):

“Poder-se-ia objetar que pode haver diálogo fora da enunciação, ou enunciado sem diálogo. Os dois casos devem ser examinados. Na disputa verbal praticada por diferentes povos e da qual uma variedade típica é o hain-teny dos Merinas, não se trata na verdade nem de diálogo nem de enunciação. Nenhum do dois parceiros se enuncia: tudo consiste em provérbios citados e em provérbios opostos citados em réplica. Não há uma única referência ao objeto do debate. Aquele, dos dois participantes, que dispõe do maior estoque de provérbios, ou que os emprega de modo mais hábil, mais malicioso, menos previsível deixa o outro sem saber o que responder e é proclamado vencedor. Este jogo não tem senão a aparência de um diálogo. Inversamente, o “monólogo” procede claramente da enunciação. Ele deve ser classificado, não obstante a aparência, como uma variedade do diálogo, estrutura fundamental. O “monólogo” é um diálogo interiorizado, formulado em “linguagem interior”, entre um eu locutor e um eu ouvinte”. (BENVENISTE, 1989, p.87).

Ducrot  desenvolve mais sistematicamente a Teoria Polifônica da Enunciação, sendo este passo significativo no sentido de romper com a unicidade do sujeito falante. Ele conduz uma reflexão crítica sobre a postura tradicional de algumas linhas teóricas da Linguística que concebem a linguagem como monológica e o sujeito como unicentrado. Conforme Ducrot (1987), sua teoria polifônica da linguagem desconstrói o postulado teórico acerca do sujeito unicentrado. Ele estabelece a distinção entre os conceitos de FRASE (objeto teórico) e ENUNCIADO (fato empírico observável no mundo). A descrição do conceito de ENUNCIAÇÂO tem três acepções:

·Enunciação – Atividade

·Enunciação – Produto

·Enunciação – Acontecimento

É com a última concepção (mais completa) que o autor se coaduna em sua teoria. Dentro dessa perspectiva, conforme o autor, sobre os conceitos de sentido e significado, o sentido diz respeito à enunciação e o significado diz respeito à frase. Na enunciação, o sentido tem natureza instrucional a partir das ‘Variáveis Argumentativas’. A concepção polifônica do sentido mostra como o enunciado assinala, em sua enunciação a superposição de diferentes vozes. Para Ducrot, tal qual uma cena de teatro em que se configuram diferentes personagens que dialogam entre si, há uma apresentação de diferentes vozes, de vários pontos de vista, e o locutor tem como função provocar seu aparecimento e mostrá-los dentro do enunciado: a estes diferentes pontos de vista o autor vai chamar de enunciadores. Ducrot (1988) aponta três diferentes funções enunciativas para melhor identificar a multiplicidade de vozes presentes na enunciação:

·O Sujeito Empírico – (SE): que é o autor efetivo, agente da reprodução de discursos já escutados ou lidos. O ser empírico que preenche o lugar de sujeito;

·O Locutor – L: que é o responsável presumido pelo enunciado a quem se atribui a responsabilidade pelo mesmo, responsável, inclusive pelo ato praticado e não pelo conteúdo proposicional. (marcas em primeira pessoa);

·O Locutor – Lp: que é o locutor-enquanto-pessoa-no-mundo, aquele que serve de suporte para determinadas predicações;

·Os Enunciadores – E1, E2 ...: que são os vários pontos de vista que podem ser percebidos em um mesmo enunciado.

Apagada a mediação do sujeito empírico na enunciação, as figuras enunciativas (SE, L, E1, E2...) dão lugar à multiplicidade de sujeitos.

Guimarães Assim como Ducrot, esse autor distancia-se da visão de Benveniste que concebe a enunciação como uma atividade do locutor em produzir um enunciado e que considera o sujeito da enunciação como uno, único e onipotente em relação ao seu próprio dizer e à língua da qual esse sujeito se apropria para dizer algo. Ele mantém que no enunciado há a representação de diferentes papéis do Locutor. “as personagens se constroem na medida em que se representa uma diante da outra”. (cf. GUIMARÃES, 2002 p.21). O autor explicita que a dupla falante/ouvinte apenas caracteriza os agentes físico-fisiológicos de falar e ouvir, de modo que não dizem respeito ao linguístico e, portanto, não se incluem como objeto da semântica. Entretanto as figuras/personagens da enunciação linguisticamente consideradas são: locutor/alocutário e enunciador/destinatário. O locutor é aquele que se representa com eu na enunciação, representando-se, internamente ao discurso, como responsável pela enunciação em que ocorre o enunciado. O locutor é uma figura constituída internamente ao discurso e marcada no texto pelas formas do paradigma do EU. O alocutário é o TU do discurso, representado enquanto correlato do locutor pelo próprio locutor. Na representação do locutor podemos distinguir dois papéis, L e Lp. O Locutor-L é aquele que simplesmente se representa como fonte do dizer. O Locutor-Lp é o Locutor-enquanto-pessoa-no-mundo. O locutor-enquanto-pessoa-no-mundo deve ser caracterizado sócio-historicamente e isso já se constitui num deslocamento que o autor faz em relação a Ducrot, para quem o Lp é apenas mais uma figura representativa das funções enunciativas que ele descreve. Respectivamente ao Locutor-L há o Alocutário-AL e ao Locutor-enquanto-pessoa-no-mundo há o Alocutário-enquanto-pessoa (ALp). (Cf. GUIMARÃES, op.cit., p.22). Há ainda o nível da relação entre enunciador e destinatário para fechar o quadro polifônico da enunciação. O enunciador é a posição do sujeito que estabelece a perspectiva da enunciação. O destinatário é o correlato constituído segundo a perspectiva do enunciador. Suponhamos aqui que no meio de uma conversa alguém diga: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Em tal enunciado representa um L que fala da perspectiva do senso comum, e que, inclusive, mobiliza esta perspectiva como argumento para o que diz. Assim L, neste caso, fala de uma perspectiva genérica-coletiva, e esta enunciação representa um enunciador genérico-coletivo. Ao contrário de Benveniste, Guimarães não exclui o enunciado proverbial do funcionamento enunciativo, nem dialógico, nem muito menos lhe sonega o Locutor. Guimarães procura caracterizar uma cena enunciativa no texto que cruza as representações da enunciação (L, Lp, E) e como estas representações relacionam-se com as de alocutário e destinatário representando a alteridade na enunciação. As categorias de análise mencionadas pelo autor são inspiradas, na teoria polifônica da enunciação de Ducrot, mas ele enfatiza seu afastamento quanto ao apego à posição estruturalista manifestado por Ducrot. Para o autor, a enunciação constitui historicamente as regularidades da língua que estão sempre abertas ao efeito do episódio enunciativo.

Para finalizar esta primeira unidade, apresentaremos um quadro teórico, adaptado de Indursky (op cit, p.75), que sintetiza os aspectos mais importantes das diferentes teorias de estudos do texto e da linguagem que foram apresentadas nesta unidade, em contraste com a linguística textual:




Linguística Textual
Sociolinguística
Pragmática
Semiótica Discursiva
Teorias da enunciação
Análise do Discurso
Unidade formal: início, meio e fim
Registros / recortes de fala
-Texto equivalente ao enunciado;
-Atos de fala
Objeto semiótico-linguístico e não linguístico
Texto equivalente ao enunciado
-Unidade significativa
-Efeito-texto: completude: começo, meio e fim
-Texto: objeto não acabado, aberto
-Relações com a Intertextualidade e Interdiscursividade
-Objeto heterogêneo
Coesão e Coerência
Diferentes níveis de variação da/na linguagem
-Atos de fala; Intencionalidade; perfomatividade na linguagem
Textualização: junção do plano do conteúdo com o plano de expressão
Coesão e Consistência
Textualização, tessitura dos recortes e das cadeias discursivas, efeito de textualidade
-
-
-
-
-
Trabalho dos sentidos no texto
Internas
Internas e contextuais
Internas e contextuais
Internas
Internas e contextuais
-Textuais
-Contextuais
-Intertextuais
-Interdiscursivas
Linguístico
(cotexto)


Linguístico
Situacional (aqui/agora)
Sócio-histórico
Autor / Leitor
Falante / Ouvinte
Falante/Ouvinte;
Interacionalidade;
Cooperatividade
Sujeito do discurso: representação da instância do sujeito do discurso: actantes
Locutor / Interlocutor
-Posição-sujeito inscrita numa Formação Discursiva (Sujeito atravessado pelo inconsciente e interpelado pela ideologia)
-Funções enunciativas do sujeito: função-autor; efeito-autor; autoria
Sentido dado pelo texto
Sentido dado pela situação linguística e social
Sentido dado pela situação linguística e interacional
Construção do percurso gerativo dos sentidos
Sentido construído pelos interlocutores
Sentido intervalar: efeito de sentido entre o sujeito-autor e o sujeito-leitor mediado pelo texto
Texto/Discurso: equivalentes
Texto/Discurso: equivalentes
Texto/Discurso: equivalentes
-Texto / Discurso equivalentes;
-Texto: representação semântica do discurso
-Uma unidade que deve ser manifestada por alguma semiótica
Texto / Enunciado / Discurso: equivalentes
Texto: a materialidade do discurso








Conteúdo Complementar 5

Diferenças e Características da Fala e da Escrita: diferentes níveis de formalidade, organização e variação.

A Fala e a Escrita são duas modalidades de uso da língua que se utilizam do mesmo sistema lingüístico, mas têm suas próprias peculiaridades. Isso não significa que devam ser encaradas de maneira dicotômica (oposta, sendo uma superior e outra inferior).

èKoch & Oesterreicher indicam o uso do critério “medium” e do critério proximidade/distância.
èChafe considera o nível maior ou menor de envolvimento dos interlocutores.
èHalliday sugere que o texto escrito tem maior densidade lexical, e o falado maior complexidade sintática.
èKoch Os textos escritos podem estar mais próximos do pólo conversacional e vice-versa. Há ainda os tipos mistos e intermediários.

 
Conforme sintetiza Koch (1997b), vários estudiosos desta área como Marcuschi (1995), Koch & Oesterreicher (1990), Halliday (1985) e Koch (1992), afirmam que “os diversos tipos de práticas sociais de produção textual situam-se ao longo de um “continuum” tipológico, em cujas extremidades estariam, de um lado, a escrita formal e, do outro, a conversação espontânea, coloquial” (KOCH, 1997, p.31).

 

 

 
Marcuschi deixa bem clara a natureza desse “continuum” tipológico: “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do “continuum” tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos ... O “continuum” tipológico distingue e correlaciona os textos de cada modalidade quanto às estratégias de formulação textual que determinam o “continuum” das características que distinguem as variações das estruturas, seleções lexicais etc. Tanto a fala como a escrita se dão num “continuum” de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de dois contínuos sobrepostos”.   (MARCUSCHI, 1995, p.14).
Para proceder a localização dos diversos tipos de texto no “continuum”, Koch relata a contribuição de alguns autores:
Conforme Koch, (1997b), alguns autores (Chafe, Tannen, Halliday, Oesterreicher etc.) a partir da década de 60 consideraram a dicotomia entre as modalidades FALA e ESCRITA, atribuindo a cada uma características particulares.  Koch afirma que tais características refletiam uma visão preconceituosa e centrada no modelo da escrita formal padrão. Com base em tal dicotomia FALA X ESCRITA, categorizava-se que (cf. KOCH, op.cit., p.32):


FALA

ESCRITA

Contextualizada
Descontextualizada
Implícita
Explícita
Redundante
Condensada
Não-planejada
Planejada
Predominância do “modus pragmático”
Predominância do “modus sintático”
Fragmentada
Não-fragmentada
Incompleta
Completa
Pouco elaborada
Elaborada
Pouca densidade informacional
Densidade informacional
Predominância de frases curtas, simples e coordenadas.
Predominância de frases complexas e subordinadas
Pequena freqüência de passivas
Emprego freqüente de passivas
Poucas nominalizações
Abundância em nominalizações
Menor densidade lexical
Maior densidade lexical

Em linhas gerais, é possível considerar que essas características não são exclusivas nem de uma nem de outra modalidade e que elas foram estabelecidas a partir dos parâmetros da escrita por visão preconceituosa que discriminava a fala. É mister entender que a fala possui características próprias:

1) Devido a sua interacionabilidade intrínseca, ela é, a priori, “não-planejável”. Ela precisa ser apenas “localmente planejável”.
2) Verbalização e planejamento concomitantes, pois esses processos emergem no momento da interação – ela é o seu próprio rascunho.
3) Descontinuidades freqüentes no fluxo discursivo.
4) Sintaxe característica ligada, de certa forma, à sintaxe geral da língua.
5) Fala é processo, portanto, é dinâmica.



Na atividade de “co-produção” discursiva, os interlocutores empenham-se juntos na produção textual. Em função da interação imediata, há pressões de natureza pragmática que passam por cima das exigências sintáticas: truncamentos, correções, inserções, repetições e parágrafos. Esses elementos têm uma função importante, a função cognitivo-interacional (cf. MARCUSCHI, 1986, apud KOCH, op.cit.).

O texto falado não é caótico, ele tem uma estrutura própria que se pauta a partir de sua produção. É nesse sentido que deve ser descrito e avaliado. No processo de produção do texto falado, os interlocutores estão in praesentia – num mesmo tempo e espaço físico (salvo exceções como telefone, rádio e outras possibilidades de conversação oral à distância que a tecnologia oferece).

Descritas as diferenças e características que perfilam as duas modalidades, vejam-se a seguir as principais interferências da oralidade na escrita, conforme aponta Koch em um texto intitulado "Interferências da oralidade na aquisição da escrita", publicado na revista Trabalhos em Lingüística Aplicada em 1997 pela UNICAMP.

I. QUESTÃO DE REFERÊNCIA:
 na oralidade muitas vezes os referentes são recuperados no próprio contexto (basta apontar, por exemplo), dispensando assim que os falantes precisem explicitá-os sempre. Mas na escrita não é bem assim, pois por ser não-presencial há a necessidade de explicitar sempre os referentes, através das marcas lingüísticas. O trecho abaixo revela a produção escrita de um sujeito que ainda não consegue diferenciar bem os usos da situação oral dos da escrita.


II. REPETIÇÕES: no texto falado, a repetição é muito freqüente, aliás ela é um dos seus mecanismos de organização, desempenhando funções didáticas, sintáticas, argumentativas, enfáticas etc. O trecho abaixo revela a interferência clara de um recurso da fala na escrita.



III. USO DE ORGANIZADORES TEXTUAIS:
 são continuadores tópicos da fala, por exemplo: e, aí, daí, então, daí então etc: Os textos das crianças são ricos em organizadores textuais típicos da oralidade.

IV. JUSTAPOSIÇÃO DE ENUNCIADOS SEM MARCA DE CONEXÃO EXPLÍCITA:
 é comum, nos textos, enunciados justapostos, sem elementos explícitos de conexão, ligação ou transição. O sujeito que está adquirindo a modalidade escrita, ainda não aprendeu os mecanismos seqüenciadores próprios dessa modalidade e mistura à escrita o padrão oral.


V. DISCURSO CITADO:
 o discurso citado é manifestado prioritariamente no estilo direto que o mais freqüente na oralidade, em geral, sem a presença de um verbo que introduza a fala do outro (fulana disse:, fulana resmungou:, fulana gritou:). O sujeito ainda não aprendeu os mecanismos seqüenciadores próprios da modalidade escrita e mistura a ela a estrutura mais típica da oral que é a que ele melhor conhece.

VI. SEGMENTAÇÃO GRÁFICA:
 também é comum que a segmentação gráfica, em textos de sujeitos iniciantes na modalidade escrita, seja feita em função do que ele ouve. É curioso notar que a criança, por vezes, tentando acertar a segmentação gráfica adequada, acaba dividindo no meio algumas palavras ou juntando outras numa só!

VII. GRAFIA CORRESPONDENTE À PALAVRA:
 ou seqüência de palavras tal como pronunciadas oralmente, isto é, reproduzindo o que a criança ouve.

VIII-      CORREÇÕES FEITAS DA FORMA COMO SE FAZEM NO TEXTO ORAL:
 assim como na fala, o sujeito não apaga ou risca a forma que considera inadequada, mas justapõe a esta a forma corrigida.

Mais algumas considerações teóricas sobre o binômio oralidade e escrita

I. Fala x escrita - a perspectiva das dicotomias: esta visão é da perspectiva dicotômica entre fala x escrita, é considerada restrita, pois polariza essas duas modalidades da língua. Por outro lado, há quem considere nesta perspectiva as relações fala x escrita dentro de um “continuum”. Aqui as análises são voltadas para o código com permanência no fato linguístico. Esta teoria deu origem ao prescritivismo gramatical e à norma linguística. De modo geral, as características próprias à fala e à escrita são descritas/prescritas por essa visão da seguinte maneira:

 èFALA = contextual, implícita, redundante, não planejada, imprecisa, não normatizada.

èESCRITA = descontextualizada, explícita, condensada, planejada, precisa, normatizada.

II. Oralidade x letramento ou fala x escrita? – há que se observar algumas especificidades dessas categorias teóricas, pois tais especificidades relacionam-se ao seu emprego em teoria e análise. O binômio Oralidade x Letramento está voltado para analisar as diferenças entre duas “práticas sociais”; enquanto que o binômio Fala x Escrita volta-se às diferenças entre duas modalidades de uso da língua.

 Resumindo:



èORALIDADE: prática social apresentada sob várias formas ou gêneros textuais em sua diversidade de uso formal e contextual.


èFALA: forma de produção discursivo-textual oral que dispensa um aparato técnico, necessitando, apenas, dos recursos próprios ao ser humano.

èLETRAMENTO: uso social da escrita que vai de uma apropriação mínima da escrita até uma utilização científica dela.


èESCRITA: tecnologia de representação abstrata da fala e produção discursivo-textual com especificidades próprias.




III. Oralidade e escrita no contexto das práticas sociais: Marcuschi (2007a) situa o papel das práticas sociais da escrita e da oralidade na civilização contemporânea. Ele considera a relação entre “vida cotidiana” e os fenômenos da fala e escrita. O texto seria, então, uma prática social e não um artefato linguístico.

A escrita, enquanto prática social, tornar-se-ia indispensável. Em relação ao uso da língua (fala e escrita) as práticas sociais têm o seu lugar, papel e grau de relevância de ambas as modalidades na sociedade – eixo de um “continuum” sócio-histórico-tipológico e até morfológico.
  
[ATENÇÃO]

Para fixar:
èHOMEM = naturalmente um “ser que fala” e não um “ser que escreve” – a escrita é derivada e a fala é primária.
èFALA = prática social do dia-a-dia.
èESCRITA = prática de um ambiente formal - escola (o que lhe confere prestígio).


A escrita permeia hoje praticamente todas as práticas sociais das comunidades em que se insere sob a forma de “letramento”. Os objetivos e ênfase do uso da escrita variam de acordo com os contextos em que se inserem: a “apropriação / distribuição” da escrita e da leitura (padrões de alfabetização), e os “usos / papéis” da escrita e da leitura (processos de letramento). Mesmo as pessoas analfabetas também estão sob a influência das estratégias da escrita em seu desempenho oral.

A escrita passou a ter um “status” bastante singular no contexto das atividades cognitivas em geral. Deve-se distinguir, então:
 ·LETRAMENTO: processo de aprendizagem sócio-histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários.
 ·ALFABETIZAÇÃO: domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
·ESCOLARIZAÇÃO: prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação do indivíduo, sendo que a alfabetização é apenas uma das atribuições/atividades. (cf MARCUSCHI, 2007a).

A escrita é uma fonte de preconceito, na medida em que se atribui o desenvolvimento à alfabetização. A escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal e não como um bem cultural. (cf MARCUSCHI, 2007a) 
A história do uso da escrita e da alfabetização ocidental é descontínua e contraditória (relação alfabetização/processo de industrialização). A alfabetização instituída dá-se de preferência sob o controle do estado, orientando-se por seus objetivos. Assim a aquisição da escrita é um fenômeno “ideológizavel”. A fala é contínua no dia-a-dia e a oralidade tem lugar em seus diferentes contextos e usos sociais.

IV. Oralidade x escrita: a tendência fenomenológica de caráter culturalista: esta visão é aculturalista e de perspectiva epistemológica. Ela observa as práticas sociais da oralidade x escrita, faz análise cognitiva dos efeitos de organização e produção do conhecimento no aspecto psico-sócio-econômico-cultural. Esta tendência é inadequada para o trato com os fatos da língua. Ela confere ao domínio da escrita o avanço na capacidade cognitiva-individual:


X

èCultura oral
èCultura escrita
Pensamento concreto
Pensamento abstrato
Raciocínio indutivo
Raciocínio dedutivo
Atividade artesanal
Atividade tecnológica
Cultivo da tradição
Inovação constante
Ritualismo
Analitismo


Há três grandes problemas nessa tendência:

·Etnocentrismo;

·Supervalorização da escrita; e

·Tratamento globalizante.

V. Fala x escrita – perspectiva variacionista: tal visão trata do papel da escrita a partir dos processos educacionais e da variação na relação língua padrão e não-padrão em contextos de ensino formal. Modelos teóricos baseiam-se no “currículo bidialetal”. Não há dicotomias, verificam-se as regularidades e variações:

Língua padrão è
á Variedade não-padrão
Língua culta è
á Língua coloquial
Norma padrão è
á Norma não-padrão

Marcuschi (2007) afirma simpatizar com essa tendência, mas acredita serem necessárias maiores reflexões. Para ele fala e escrita não são dialetos, mas “modalidades” de uso de língua. Nesse sentido o aluno se tornaria “bimodal”.

VI. Oralidade x escrita – a perspectiva interacional: esta perspectiva trata das relações entre fala e escrita, considerando o “continuum” textual. É a visão interacionista, cujos fundamentos baseiam-se em:


·Relação dialógica no uso

·Estratégias de linguagem

·Funções interacionistas

·Envolvimento e situacionalidade

·Formulaicidade

Este modelo percebe mais sistematicamente a língua enquanto fenômeno dinâmico e estereotipado, centrando-se em atividades dialógicas que frisam os aspectos mais salientes da fala. Porém tem um baixo potencial explicativo e descritivo dos fenômenos sintáticos e fonológicos da língua (cf Marcuschi, 2007a).

VII. Concepção e funcionamento da língua – consequente relação fala / escrita: O sucesso da análise vai depender da concepção de Língua que subjaz à teoria, bem como da noção de funcionamento da língua, esta é fruto das condições de produção. A noção de sistema atém-se à concepção básica de uma “estrutura virtual”. Fica desde já eliminada uma série de distinções geralmente feitas entre fala e escrita, tais como a contextualização (na fala) X descontextualização  (na escrita), implicitude (na fala) X explicitude (na escrita) e assim por diante.

A língua (seja oral ou escrita) reflete a organização da sociedade, uma vez que se relaciona com as “representações e as formações sociais”. Entretanto, a fala e a escrita representam formas de organização da mente através das próprias representações mentais. Vale salientar, sobretudo, que, assim como a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem propriedades intrinsecamente privilegiadas. São modos de representação cognitiva e social que se revelam em práticas sócio-culturais específicas. A oralidade e a escrita são ambas práticas sociais e não propriedades de sociedades distintas.




Conteúdo 6 - Considerações sobre a Análise da Conversação

Esta área tem um caráter interdisciplinar, na medida em que divide alguns pressupostos teóricos com outras áreas (inclusive com a LT). Ela busca estabelecer relações com a exterioridade da linguagem, problematizando a separação entre a materialidade da língua e seus contextos de produção. Assim como a Sociolinguística, a Pragmática, a Análise do discurso, a Semiótica discursiva e a própria Linguística textual, esta área também mobiliza saberes de outras ciências como a Filosófica da linguagem, a Antropologia, a História, a Sociologia, a psicanálise e as Ciências cognitivas.

Foi na década de 1980 que foi lançado, no Brasil, o primeiro livro nesta área com o título “Análise da Conversação”, de Luiz Antônio Marcuschi (1986/2007b). Para este autor, a conversação é o exercício prático das potencialidades cognitivas do ser humano em suas relações interpessoais, tornando-se assim um dos melhores testes para a organização e funcionamento da cognição na complexa atividade da comunicação humana.

Como enfatiza Marcuschi (2007b), a Análise da Conversação (doravante AC) teve origem na década de 1960 no campo dos estudos sociológicos ligados à Etnometodologia a partir de trabalhos referenciais como os de Harold Garfinkel, Harvey Sacs, Emanuel Schegloff e Gail Jeferson. A partir dessa perspectiva, os estudiosos da AC têm procurado investigar os aspectos da organização do texto conversacional.

Vejamos três níveis essenciais desse enfoque apontados por Hilgert (1989 apud MARCUSCHI, 2007b):

A) macronível: nas fases conversacionais – abertura, fechamento e parte central, e o tema central e subtemas da conversação.

B) nível médio: turno conversacional, tomada de turnos, sequência conversacional, atos de fala e marcadores conversacionais.

C) micronível: elementos internos do ato de fala, que constituem sua estrutura sintática, lexical, fonológica e prosódica.

A Análise da Conversação estabelece o texto como seu objeto de estudos, mas esta área vai dedicar-se único e exclusivamente ao estudo do texto oral, natural, e presencial (face to face), ou seja, aquele texto produzido em situações espontâneas. Portanto, textos “artificiais” como os de novela, cinema ou ainda conversas telefônicas, não são objeto de interesse específico neste campo científico.

Numa conversa, geralmente abordada-se um ou mais tópicos discursivos, algo sobre o que duas pessoas (pelo menos) conversam. Esse tópico discursivo define-se como uma atividade que correlaciona objetivos entre os interlocutores onde há um movimento dinâmico da estrutura conversacional que faz dele a base do texto oral. A organização tópica, como já foi anteriormente retomada de Fávero, pauta-se em três propriedade: a centração, organicidade e delimitação.

Na Análise da Conversação, o tópico discursivo (aquilo sobre o que se fala) é fio condutor da conversação e a unidade funcional da conversação é o turno (período de tempo que cada falante ocupa).


Para sinalizar que compartilhamos cognitivamente da interação, recorremos, naturalmente, a expressões do tipo: “isso me lembra”, “por falar em” etc. que podem marcar a passagem de um tópico a outro. A estrutura tópica serve, assim, de fio condutor da organização linear do discurso. Conforme Dionísio, 2001

Lembre-se de que o planejamento na fala ocorre no momento da interação, pois a conversação é localmente planejada. Considere ainda que em se estabelecendo uma gradação do informal para o formal, observa-se uma variedade entre esses dois pólos que se estabelecem dentro de um continuum e que podem ser exemplificadas relacionando diferentes variedades entre fala e escrita, escrita e escrita, e fala e fala, conforme já foi refletido a partir das contribuições de Marcuschi nesse assunto.

Após esta apresentação da AC, acompanhe a seguir alguns dos pontos mais importantes dessa teoria linguística.

I. SOBRE O TRATAMENTO DOS DADOS ORAIS – primeiramente, deve-se considerar o sistema de transcrição de texto oral: as conversações naturais que servem decorpus para a AC devem ser gravadas ou filmadas para que o analista possa observar, transcrever e comprovar seuS dados da maneira mais fiel possível. O analista pode privilegiar os aspectos fundamentais para sua análise, mas a transcrição deve ser legível. Em função do trabalho com textos orais, esta área possui normas de transcrição de texto bastante específicas para atender a todas as situações. A AC analisa materiais empíricos, orais, contextuais, incluindo realizações entonacionais e gestuais que possam colaborar com a construção do sentido. Um outro aspecto importante para caracterizar o perfil da Análise da Conversação é a importância conferida também aos recursos não verbais utilizados na fala.


No segundo capítulo do livro Análise da Conversação, Marcuschi (2007b) apresenta um sistema de transcrição para textos falados, que sintetiza bem como deve ser o tratamento formal de transcrição da fala e que inclusive serve de base às transcrições do Projeto NURC. Segue abaixo o referido quadro adaptado:



OCORRÊNCIAS
SINAIS
EXEMPLIFICAÇÃO
1. Indicação dos falantes
Os falantes devem ser indicados em linha, com letras ou alguma
sigla convencional
H28
M33
Doc.
Inf.
2. Pausas
...
não... isso é besteira
3. Ênfase
MAIÚSCULA
ela comprou um OSSO
4. Alongamento de vogal
: (pequeno)
:: (médio)
::: (grande)
eu não tô querendo é dizer
que ... é: o eu fico até:: o: tempo
todo
5. Silabação
-
do-minadora
6. Interrogação
?
ela é contra a mulher
machista... sabia?
7. Segmentos incompreensíveis
ou ininteligíveis
( )
(ininteligível)
bora gente... tenho aula... ( ) daqui

8. Truncamento de palavras ou desvio sintático
/
eu pre/ pretendo comprar
9. Comentário do transcritor
(( ))
M.H. ... é ((rindo))
10. Citações
“”
“mai Jandira eu vô dize a
Anja agora que ela vai
apanhá a profissão de
madrinha agora mermo”
11. Superposição de vozes
[
H28. é... existe... [você ( )do homem...
M33.                    [pera aí... você
Acha... pera aí... pera aí 
12. Simultaneidade de vozes
[[
M33. [[mas eu garanto que muita coisa
H28. [[eu acho eu acho é a autoridade
13. Ortografia

tô,ta, vô, ahã, mhm


II. A ORGANIZAÇÃO DA CONVERSA – numa conversa, os interlocutores devem falar um por vez. Eles devem esperar um lugar relevante para a transição (LRT), ou seja, esperar por marcas na fala do interlocutor como pausas, hesitações, entonações descendentes, marcadores etc. Os interlocutores emitem sinais para marcar o fim de seu turno ou um convite à fala do outro e trocam o tempo todo os papéis de falante e ouvinte, mas isso não impede que, em algumas situações, muitas pessoas falem ao mesmo tempo e se entendem. Todos os falantes têm direito à fala. Conforme explica Marcuschi (2007b), a noção de turno engloba dois sentidos:

Os turnos podem ser nucleares (centrais no desenvolvimento do tópico discursivo) e inseridos (produções marginais ao tópico). A mudança de turno pode ocorrer através da passagem, assalto, e sustentação da fala. A passagem do turno pode ser requerida ou consentida pelo falante; os assaltos são uma espécie de violação da regra “falar um de cada vez” e o falante invade o turno do outro sem solicitação ou consentimento (o interlocutor assaltado pode perder e em seguida retomar, abandonar ou recuperar o comando da interação sobrepondo-se à fala do outro); e a sustentação é uma tentativa do falante de garantir a posse do turno, recorrendo a marcadores conversacionais, alongamentos, repetições e elevação da voz.

No caso das entrevistas formais, que apresentam uma estrutura básica de pergunta e resposta, em geral, a elaboração do turno conversacional apresenta uma distinção nítida: os turnos de resposta tendem a ser longos e apesar de pausas, truncamentos, hesitações, alongamentos etc, não há tomada de turno. A estrutura em pergunta e resposta compõe a unidade fundamental da organização conversacional e podem variar na sua realização.

III. DOS MARCADORES CONVERSACIONAIS – como o texto oral é planejado e verbalizado ao mesmo tempo, dos recursos mais característicos da fala natural são os marcadores conversacionais que podem ser verbais, não-verbais ou prosódicos: alguns marcam finalização de turno (“não é?”, “entendeu?”); outros marcam participação (“uhrum”); e outros marcam convergência (“exato”, “sim”). Os marcadores conversacionais são produzidos pelos falantes para dar tempo à organização do pensamento, sustentar o turno, monitorar o ouvinte, corrigir-se, reorganizar e reorientar o discurso, e pelos ouvintes para orientar e monitorar o falante quanto à recepção com sinais de convergência, indagação e divergência.


IV. A CONSTRUÇÃO DA COMPREENSÃO NO TEXTO FALADO – quando dois ou mais indivíduos conversam, eles coordenam conteúdos e ações, contruindo um texto coerente. O sucesso da interação atrela-se ao processo interacional estabelecido entre os participantes num esforço coletivo pela construção de sentidos. Conforme Marcuschi (op cit), a compreensão na interação verbal face a face, resulta de um projeto conjunto de interlocutores em atividades cooperativas e coordenadas de co-produção de sentido e não de uma simples interpretação semântica de enunciados postos. O analista deve dar conta de como os participantes de uma interação resolvem suas estratégias e processos de compreensão. Marcuschi apresenta algumas atividades de compreensão na interação verbal que merecem destaque:

·Estratégia 1- negociação: central para a produção de sentidos na interação verbal dada a sua natureza conjunta;

·Estratégia 2- construção de um foco comum: na interação a base da troca é a sintonia referencial, o interesse comum e referentes partilhados;

·Estratégia 3- demonstração de (des)interesse e (não-)partilhamento: se não há esse partilhamento a interação não progride;

·Estratégia 4- existência e diversidade de expectativas: os interlocutores criam expectativas diversas em relação um ao outro relacionadas ao contexto, às condições em que são produzidas, conhecimento partilhado etc;

·Estratégia 5- marcas de atenção: sinais enviados pelos interlocutores que demonstram se há boa ou má sincronia na interação.

A análise da conversação no Brasil constitui-se em uma linha de pesquisa praticada sistematicamente com uma produção editorial que abrange transcrições de materiais do corpus do Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta (NURC), análises de textos orais sobre diversos temas da AC, gramáticas do português falado (com o corpus dos NURCs), além de teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação das universidades brasileiras.




Conteúdo 7 - Leitura, oralidade e escrita: práticas linguísticas, sociais e pedagógicas 
 Historicamente, as práticas de Escrita e Leitura se configuraram como representações sócio-discursivas de diferentes classes e aquelas práticas relacionadas às classes econômico e politicamente dominantes foram atreladas ao “bom uso” do vernáculo, à aquisição e acúmulo do conhecimento (e sua organização), ao progresso e avanço científico-tecnológico e à ascensão social. Nessa perspectiva, vinculou-se à escola, sobretudo, o papel de “ensinar”, reproduzir e reconhecer tais práticas.
 A prática pedagógica faz uso de cartilhas, livros e manuais didáticos para instrumentalizar os exercícios de leitura e escrita em sala de aula. Entretanto, a escola mostra modelos de escrita, mas não consegue ensiná-los. A escola não prioriza: Quais são as condições atuais de leitura? Quem lê? Quem escreve? Para quê? Por quê?
No exercício pedagógico das práticas de Leitura e Escrita há o apagamento (ou enfraquecimento) de sua mais importante característica: a interacionalidade dialógica – constitutiva da linguagem, seja oral ou escrita. A escola se faz o grande (e único) interlocutor do aluno. Desde os exercícios de reconhecimento fonético “IVo Viu a uVa”, até as tais “fichas de leitura” em que os alunos nem precisam ler o livro para completar as respostas. (cf. GERALDI, 1985).
 O aluno não é levado a produzir textos e sim a reproduzi-los e sua autonomia e originalidade, na maioria das vezes, é podada e minada ao longo de seu percurso escolar. Portanto, não há troca, interação, mas apenas uma simulação desse processo entre professor e aluno. Em geral, o professor é sempre a boca (falante) e o aluno é sempre a orelha (ouvinte), sem que nunca troquem de papéis. E quando o aluno (re)produz, o professor não está interessado em sua produção, mas em se ele conseguiu reproduzir o modelo.
Os sentidos que as crianças atribuem à escrita, seus esquemas de interpretação, são variados e dependem das experiências passadas, bem como dos conhecimentos adquiridos – a escola confunde falta de conhecimento com inaptidão para adquirir os conhecimentos acadêmicos, não reconhecendo o saber do aluno e rotulando-os: “os alunos fracos”, “os que não sabem”. Veja-se o texto, abaixo, em que a professora está interessada em se a criança decodificou a escrita, mas não está preocupada com a interpretação que a criança faz.
Apresentado por SMOLKA (1988, p.59).
A professora escreve na lousa:
"A mamãe afia a faca"
e pede para uma criança ler.
A criança lê corretamente.
Um adulto pergunta à criança:
- Quem que é a mamãe?
- É a minha mãe, né?
- E o que que é "afia"?
A criança hesita, pensa e responde:
- Sou eu, porque ela (a mamãe) diz: vem cá, minha fia.
A professora, desconcertada, intervém:
- Não, afia é amola a faca!"


A criança é exposta a uma frase solta, descontextualizada, mas mesmo assim tenta levantar hipóteses, com base no uso que ela faz de ‘afia’ no seu contexto social e funcional. Vê-se que, como a criança já usa a linguagem (oral) e sabe que ela tem uma função, um sentido, ela fica confusa por não conseguir se subjetivar pelo “texto” que a escola apresenta.

Sobre a questão da oralidade na escola, Brito (1985) postula que “O processo de construção de redação é uma disputa (não uma integração) constante entre a competência lingüística do estudante (basicamente oral, não-formal e desescolarizada) e a imagem de língua escrita que cria a partir da imagem do interlocutor e de interlocuções privilegiadas (...) Como esse interlocutor tem caráter fortemente repressivo e valorativo, o estudante, na necessidade de mostrar que “sabe”: - nega sua capacidade lingüística oral; cria uma imagem de língua a partir das fontes que identifica com a imagem do interlocutor, isto é, relações sociais em que haja (ou o aluno identifique) marcas de autoridade, padrão culto etc.” (BRITO, 1985, p.125).
 Geraldi (1985) conclui que, nessas condições, quanto menos conhecimento específico sobre a linguagem escrita (metalingüístico) a criança tem, mais noção da funcionalidade escrita ela demonstra.
Ele aponta o exemplo de dois garotos que foram reprovados em um ano por “não saberem escrever” e no ano seguinte um foi aprovado e o outro novamente reprovado. Mas, conforme Geraldi, a “produção” do aluno aprovado não passava de uma caricatura idiota, reprodutora do modelo das cartilhas, que nem chega a ser um texto (e sim, no máximo uma “redação”). Já o aluno reprovado, apesar de vários problemas com o registro escrito, apresenta verdadeiramente um texto, uma narrativa em que se pode compreender uma história com todos os seus elementos básicos (enredo, personagens, espaço, tempo, clímax) e, além disso, o texto denota a subjetividade de seu autor, pois retrata um tema bastante típico paras as crianças, sobretudo as de classe econômica baixa. 
Textos apresentados por GERALDI (1985, p.129).
A casa é bonita.
A casa é do menino.
A casa é do pai.
A casa tem uma sala.        
A casa é amarela.
Era uma vez umpionho queroia ocabelo dai um emninopinheto dapasou um umenino lipo enei pionho aí pasou um emnino pionheto daí omenino pegoupionho da amunhér pegoupionho da todomundosaiogritãdo todomundo pegou pionho di até sofinho begoupionho.
è [Era uma vez um piolho que roía o cabelo de um menino piolhento daí passou um menino limpo sem piolho aí um menino piolhento daí o menino pegou piolho daí a mulher pegou piolho daí todo mundo saiu gritando todo mundo pegou piolho até seu filhinho pegou piolho.]


 
èSmolka (1988) questiona: “que escrita é essa que a criança aprende na escola que faz com que ela “regrida” quando escreve o que pensa? Assim se comprova, mais uma vez, que a escola ensina as crianças a repetirem e reproduzirem palavras e frases feitas. A escola ensina palavras isoladas e frases sem sentido e não trabalha com as crianças [na fase da escrita inicial], o “fluir do significado”, a estruturação deliberada do discurso interior pela escritura” (SMOLKA, 1988, p.69).                                                                                                                  

É devolvendo o direito à palavra ao aluno que talvez se possa um dia ler a história contada, e não contida, da grande maioria que hoje ocupa os bancos das escolas públicas. “E tal atitude, parece-me, dá novo significado à questão “como avaliar redações?” apontando, no mínimo, para critérios diferentes daqueles que reprovaram o autor do texto, e aprovaram o “autor” da redação.” (GERALDI, 1985, p.129).

É preciso não perder de vista que o autor/sujeito emerge do discurso na escritura, e o professor enxergará isso, observando as marcas, delineando as pistas e trabalhando a leitura e escritura como práticas discursivas. As situações de ensino/aprendizagem devem ser instauradoras da relação de interação e interlocução – ela é objeto de conhecimento e constitutiva do conhecimento na interação. Não se trata apenas de ensinar (no sentido de transmitir) a escrita, mas de usá-la como interação e interlocução na sala de aula, experimentando a linguagem nas suas várias possibilidades.

 
Veja-se a seguir uma importante sugestão de Smolka (1988), nesse sentido:
 
è “Buscando, então, transformar algumas condições e procedimentos de ensino nas escolas, começamos a usar, como uma das formas de articulação das atividades e de constituição da interdiscursividade, a literatura infantil. Além da literatura, procurávamos implementar as várias formas de linguagem (plástica, corporal etc) possíveis e viáveis nas situações escolares. E por que a utilização da literatura? Porque a literatura, como discurso escrito, revela, registra e trabalha formas e normas do discurso social; ao mesmo tempo, instaura e amplia o espaço interdiscursivo, na medida em que inclui outros interlocutores – de outros lugares, de outros tempos – criando novas condições e novas possibilidades de troca de saberes, convocando os ouvintes/leitores a participarem como protagonistas no diálogo que se estabelece”. (SMOLKA, 1988, p.80).
è“Nesse processo, a escrita integra o habitus e a possibilidade, a necessidade e o gosto  (também forjados socialmente) da interação por escrito ganham força na correspondência e no registro das experiências. Mas relato e ficção se fundem, se confundem: o imaginário também ganha força. Fatos e crenças, ritos e mitos, medos e desejos são explicitados. É o discurso cotidiano que começa a ser marcado pelo trabalho de escritura das crianças e que traz, portanto, as marcas da realidade sócio-cultural dos indivíduos e dos grupos em interação.” (SMOLKA, 1988, p.100).


Considerando a proposta da autora, vejam-se três textos (apresentados por Smolka) em que se podem reconhecer todos esses aspectos por ela apontados, relacionados ao trabalho com o texto literário e o processo de subjetivação da criança, através da leitura/escrita.






CONTEUDO 8
ESTRATÉGIAS DE LEITURA
. A leitura quanto um ato individual, uma vez que a leitura é um ato individual na construção de significado num contexto. Portanto, para cada leitor depende de seus conhecimentos, interesses e objetivo.
As estratégias podem ser inferidas a partir da compreensão verbal ou não verbal do texto.

ESTRATÉGIAS COGNITIVAS
São operações inconscientes  do leitor. De acordo com KLEIMAN , os mecanismos cognitivos no processamento do texto: MATERIAL ESCRITO, MEMORIA DE TRABALHO, MEMÓRIA INTERMEDIÁRIA, MEMORIA LONGO TERMO, MEMORIA SEMANTICA, MEMORIA PROFUNDA.

ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS
São varias estratégias que podem ser utilizadas pelo leitor. Ele poderá voltar e reler o texto ou procurar por palavras-chaves, fazer um resumo do que entendeu , procurar  exemplo de um conceito. Desenvolvendo  habilidades verbais das estratégias cognitivas.
A estratégia de leitura consiste em buscar reproduzir  condições ao leitor a flexibilidade e independência.

CONTEUDO 9
TIPOS DE LEITOR
As hipóteses sobre o processo subjacente á leitura , o leitor participa reconstruindo o discurso do escritor. Temos duas hipóteses: a ascendente; o leitor faz uma analise e identifica em partes menores o sentido do texto.
A descendente o leitor faz uso de seus conhecimentos  sobre o assunto para o entendimento do texto.
Se os processos forem usados conjuntamente, teremos um leitor CONSTRUTOR-ANALISADOR.
Temos um LEITOR-COOPERATIVO; um ato de comunicação por regras convencionais, sendo assim um escritor claro e um leitor com recursos linguísticos simples

Leitor-reconstrutor define como um ato de reconstrução dos processos de sua produção que o leitor se coloca seguindo as trilhas deixadas pelo escritor.