ROMANTISMO
A ideologia romântica, argamassada
ao longo do século XVIII e a primeira metade do século XIX, introduziu-se em
1836, graças ao livro Suspiros Poéticos e
Saudades, de Gonçalves de Magalhães, e à revista Niterói, fundada e publicada pelo mesmo, Porto Alegre e Torres
Homem; e perdurou até 1881, quando o surgimento de O Mulato, de Aluísio Azevedo, deu início à estética realista e
naturalista em nossas letras. Durante quatro decênio, imperaram o “eu”, a
anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, por meio da poesia,
do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época).
Três os momentos percorridos pela
metamorfose romântica:
1) corresponde ao período de
implantação e definição do novo credo cultural; representam-no, afora os nomes
citados, Gonçalves Dias, na poesia, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar,
na prosa, e Martins Pena, no teatro.
2) em que se instala a moda
byroniana em poesia, com Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Álvares de
Azevedo, Fagundes Varela, e em que aparecem os ficcionistas Bernardes Guimarães
e Manuel Antônio de Almeida;
3) equivalente às últimas décadas
da época, em que se presencia a gestação do Realismo e, portanto, o desmoronar
do Romantismo, com Castro Alves, na poesia, e Visconde de Taunay, na prosa.
ROMANTISMO NO BRASIL – POESIA
O Romantismo no Brasil inicia-se
no ano de 1836, tendo como marco inicial a obra Suspiros Poéticos e Saudades,
de Gonçalves de Magalhães. Didaticamente, na poesia, dividimos o movimento em
três gerações: a primeira, nacionalista; a segunda, conhecida como ‘mal do
século’; e a terceira, marcada pelo condoreirismo.
PRIMEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
A primeira geração, fortemente
influenciada pela Independência do Brasil, conquistada em 1822, buscava uma
poesia que identificasse o país com suas raízes históricas, linguísticas e
culturais, assim como o brasileiro buscava sua própria identidade neste novo
Brasil, livre de Portugal. O sentimento de nacionalidade, o patriotismo e o
desejo de construir uma arte brasileira propriamente dita, com elementos que
remetiam ao passado histórico do país, eram muito fortes nas obras desta
geração.
Marcada pelo indianismo, a poesia
da primeira geração tinha temáticas que remetiam à natureza brasileira,
exaltando-a e colocando todos os elementos à altura dela, fazendo comparações e
metáforas com todas as riquezas naturais. O índio surge como um herói que
representa o Brasil e os brasileiros, numa visão de realidade idealizada e
subjetiva.
Obras e autores da primeira geração
Destacam-se nesta primeira
geração os poetas Gonçalves Dias, com obras como Canção do Exílio e I-Juca
Pirama, e Gonçalves de Magalhães, com a Confederação dos Tamoios.
SEGUNDA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
A segunda geração surgiu em
meados da década de 50 do século XIX e, na contramão da primeira geração, traz
uma poesia onde o eu-lírico volta-se mais para si, afastando-se dos
acontecimentos políticos e sociais da época. Com inspiração de Lord Byron,
poeta britânico, a poesia da segunda geração tinha em suas temáticas o
pessimismo, o apego aos vícios e o foco nos sentimentos, que apareciam de forma
exagerada e idealizada na poesia.
Também temos o gosto pela noite,
a melancolia, o sofrimento, temáticas mórbidas e o medo do amor, este sendo um
sentimento idealizado, um devaneio onde existem imagens sensuais e eróticas que
nunca são vivenciadas e vistas na realidade do eu-lírico, que vive em meio à
solidão, sonhos e idealizações.
Obras e autores da segunda geração
O grande nome desta fase é
Álvares de Azevedo, com sua Lira dos Vinte Anos e a prosa Noite da Taverna, que
destoa dos tipos de prosa do Romantismo, tendo nesta obra as características da
segunda geração poética. Além deste, temos também Casemiro de Abreu, que, ao
contrário de Álvares, estava mais encaixado no gosto do público, não entrando
em temáticas tão mórbidas. Por último, temos Fagundes Varela, poeta em
transição, com algumas poesias que começavam a voltar seu olhar para a
sociedade.
TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
A terceira geração romântica
surge em meados de 60 e dura até o fim do Romantismo, em 1880. Com inspiração
em Victor Hugo, esta geração traz uma poesia com foco político e social,
marcada pelo momento em que as ideias abolicionistas e republicanas vinham à
tona e. o desejo de libertar-se da realidade atrasada do Império era forte.
É uma fase que já anuncia a
mudança para o Realismo, pois tirava o foco do ‘eu’ e colocava este foco no
assunto e na realidade social, trazendo postura crítica e uma poesia liberal ao
invés da simples exaltação e estagnação das primeiras gerações que trazia uma
poesia exagerada e idealizada demais.
CONDODEIRISMO
O nome condodeirismo não vem à
toa: seguindo os ideais de liberdade, temos neste nome a figura do condor, ave
que dava um alto voo, assim como os poetas o faziam ao sonhar alto e lutar
pelos seus ideais libertários.
Obras e autores da terceira geração
Nesta geração o nome mais famoso
é o de Castro Alves, com seu épico O Navio Negreiro. Temos também Joaquim de
Sousa Andrade e José Joaquim de Campos Leão.
GONÇALVES DIAS
Antônio Gonçalves Dias nasceu a
10 de agosto de 1823, nos arredores de Caxias, no Maranhão. Filho natural de
português e mestiça, com a morte do pai, que, entretanto, se casara
regularmente, é enviado pela madrasta a estudar Direito em Coimbra (1838).
Durante o curso, escreveu seus primeiros versos e participa do grupo de poetas
medievistas que se reunia em torno de O
Trovador. Formado em 1844, regressa ao Maranhão, e conhece Ana Amélia
Ferreira do Vale, que lhe inspiraria, mais tarde o poema “Ainda uma vez –
adeus!”. Em 1846, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se dedica ao magistério
(professor de latim e História do Brasil no Colégio Pedro II), ao jornalismo
(redator da revista Guanabara) e à
elaboração da sua obra poética, teatral e etnográfica e historiográfica, a
última das quais relacionada com as várias missões que lhe são destinadas, aqui
e no estrangeiro. Faleceu ao regressar de uma viagem à Europa, no naufrágio do “Ville
de Boulogne”, já próximo do Maranhão, a 3 de novembro de 1864. Escreveu: Primeiros Cantos (1846). Leonor de Mendonça, teatro (1847), Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848),
Últimos Cantos (1851), Os Timbiras (1857), Dicionário da Língua Tupi (1858), Obras Póstumas, 6 volumes, organizadas por Antônio Henriques Leal
(1868-1869).
Primeiro poeta autenticamente
brasileiro, na sensibilidade e na temática, e das mais altas vozes de nosso
lirismo.
Características de seu estilo literário:
- Representação romântica e
valorização do indígena brasileiro e sua cultura.
- Poesias escritas buscando sempre
a perfeição rítmica e formal.
- Poemas marcados pela presença de
rima, musicalidade e métrica.
- Retratou também, de forma
positiva, os negros.
- Exaltou as belezas naturais do
Brasil.
- Retratou temas ligados aos valores
medievais (principalmente dos cavaleiros), transportados para o contexto
brasileiro.
- Abordou também a religiosidade
de caráter cristão.
- Em suas poesias, abordou o
sentimentalismo.
Marabá - Gonçalves Dias
Eu vivo sozinha; ninguém me
procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim
não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!
— Meus olhos são garços, são cor
das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo
brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu
anilado,
— As cores imitam das vagas do
mar!
Se algum dos guerreiros não foge
a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és
Marabá:
"Quero antes uns olhos bem
pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não
cor d'anajá!"
— É alvo meu rosto da alvura dos
lírios,
— Da cor das areias batidas do
mar;
— As aves mais brancas, as
conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm
mais brilhar.
Se ainda me escuta meus agros
delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és
Marabá:
"Quero antes um rosto de
jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor
de cajá."
— Meu colo de leve se encurva
engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus
em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no
prado,
— Como um soluçado suspiro de
amor! —
"Eu amo a estatura flexível,
ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és
Marabá:
"Quero antes o colo da ema
orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas
governa, onde está."
— Meus loiros cabelos em ondas se
anelam,
— O oiro mais puro não tem seu
fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver
se enamoram,
— De os ver tão formosos como um
beija-flor!
Mas eles respondem: "Teus
longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és
Marabá:
"Quero antes cabelos, bem
lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem
cor d'anajá."
E as doces palavras que eu tinha
cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um
homem
Jamais cingirei:
Jamais um guerreiro da minha
arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando
mesquinha,
Que sou Marabá!
ANÁLISE – MARABÁ
No poema Marabá de Gonçalves
Dias, é possível perceber a presença marcante do Romantismo. Essa presença é
logo apresentada no tema geral do poema: "amor-melancolia; amor-desespero;
amor-desilusão". É em torno do embate entre Marabá e os guerreiros que se
dá esse amor desiludido.
Outra característica se apresenta
na construção da personagem Marabá (índia mestiça) em oposição a índia
verdadeiramente brasileira. Ora, é sabedor que o índio constitui elemento
singular em nossa literatura romântica. Seus traços brasileiros ganharam tanta
conotação que embora Marabá seja, apesar de mestiça, bonita, ainda sim é
rejeitada pois não se enquadra na descrição do indígena transplantado para a
nossa literatura.
outros elementos também merecem
um olhar diferenciado: linguagem poética carregada de metáforas que exaltam o
elemento paisagístico (brisa, beija-flor), paralelismo, jogo de palavras,
presença de duas vozes (Marabá e o guerreiro) intercalando as ações: ora Marabá
ressalta a sua própria beleza, ora é o guerreiro que ressalta a beleza indígena
por ele preferida. E nesse vai e vem de exposição do belo, Marabá se dá conta
que a sua beleza é desprestigiada naquele meio social. Um exemplo de lirismo em
que a figura do elemento indígena adquire a conotação de elemento principal do
nosso período romântico.
EXERCÍCIOS
(FUVEST/2001)
Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso... e só de
ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir
de sono.
(Álvares de Azevedo, "Luar
de Verão", Lira dos vinte anos.)
a) ironia romântica.
b) tendência romântica.
c) melancolia romântica.
d) aversão dos românticos à
natureza.
e) fuga romântica para o sonho.
(UEL-PR/1999) Considere as
seguintes afirmações sobre poetas do nosso Romantismo:
I- O caráter intimista da poesia
de Álvares de Azevedo não impediu que ele se manifestasse também na forma da
sátira.
II- O tom declamatório da poesia abolicionista
de Castro Alves está intimimamente ligado à sua função: conclamar o público a
assumir uma possição combativa.
III- Há, na poesia de Gonçalves
Dias, interesse em exaltar a natureza tropical e o nobre caráter dos nossos
índios.
É correto o que está afirmado:
a) somente em II.
b) somente em I e II.
c) somente em I e III.
d) somente em II e III
e) em I, II e III.
(FUVEST/1996) Tomadas em
conjunto, as obras de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves
demonstram que, no Brasil, a poesia romântica:
a) pouco deveu às literaturas
estrangeiras, consolidando de forma homogênea a inclinação sentimental e o
anseio nacionalista dos escritores da época.
b) repercutiu, com efeitos locais, diferentes valores e tonalidades da
literatura européia: a dignidade do homem natural, a exacerbação das paixões e
a crença em lutas libertárias.
c) constituiu um painel de
estilos diversificados, cada um dos poetas criando livremente sua linguagem,
mas preocupados todos com a afirmação dos ideais abolicionistas e republicanos.
d) refletiu as tendências ao
intimismo e à morbidez de alguns poetas europeus, evitando ocupar-se com temas
sociais e históricos, tidos como prosaicos.
e) cultuou sobretudo o satanismo,
inspirado no poeta inglês Byron, e a memória nostálgica das civilizações da
Antigüidade clássica, representadas por suas ruínas.
(UE-Londrina) Gonçalves Dias se
destaca no panorama da primeira fase romântica pelas suas qualidades superiores
de artista. Nele:
a) a pátria é retratada de
maneira que se tenha um registro fiel da sua fauna e flora, sem interferência
da emoção do poeta, como em “Canção do Exílio”.
b) a persistência de traços do espírito clássico impede o exagero do
sentimentalismo, encontrado, por exemplo, em Casimiro de Abreu.
c) o indianismo é fiel à verdade
da vida indígena, não apresentando a distorção poética observada em outros
escritores.
d) protótipo do byroniano,
convivem lado a lado o humor negro e o extremo idealismo.
e) predomina a poesia lírica de
recuperação da infância, com acentuado tom saudosista, tão evidente em “Meus
Oito Anos”.
(UFOP) A afirmativa correta é:
a) Gonçalves Dias em sua poesia
busca a perfeição formal e o absoluto rigor da métrica, de acordo com o que preconiza
a estética romântica.
b) Gonçalves Dias, quase unanimemente considerado pela crítica o nosso
primeiro grande poeta romântico, explorou o tema indianista como afirmação da
nossa nacionalidade, segundo a crença romântica, e foi mais além ao mostrar-se
talentoso na exaltação da natureza e profundamente lírico em poemas como, por
exemplo: Ainda uma vez — Adeus!, Como! És tu?, dentre outros.
c) Para Gonçalves Dias a poesia
não narra, não descreve e não é didática. A poesia deve apenas sugerir, pois
faz uso da linguagem poética em oposição à linguagem utilitária da prosa, da
filosofia e da ciência que faz uso dos signos ordinários do cotidiano.
d) Talvez tenha sido Gonçalves
Dias o único grande poeta brasileiro a alcançar almejado ideal da
“impassibilidade”, possibilitando, com isso, uma poesia reveladora da realidade
exterior, formando, com Castro Alves, a verdadeira poesia empenhada de nossa literatura.
e) Nenhuma das alternativas está
correta.
A poesia lírico-amorosa deixa
nítida uma das vertentes norteadoras da obra desse grande representante de
nossas letras – Gonçalves Dias. Dessa forma, acerca dos conhecimentos de que
dispõe sobre esse perfil do artista em questão, analise o poema a seguir,
procurando deixar suas marcas de impressão acerca dele:
Ainda Uma Vez Adeus
I
Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
[...]
VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!
IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
[...]
Resposta: Além do perfil voltado para o exaltar do nacionalismo,
envolvendo, consequentemente, as questões voltadas para o nativo acima de tudo,
Gonçalves Dias também cultuou, como expresso no próprio enunciado, a poesia
lírico-amorosa, traço demarcante de toda a sua habilidade enquanto artista dos
versos. Dessa forma, nota-se por meio do poema em análise que o amor é visto
como um sentimento aquém, um sentimento não concretizado, ainda que
cultivado. Os versos últimos, ora retratados
abaixo, tão bem nos demonstram que, apesar das desilusões amorosas, o eu-lírico
não cansou de lutar, alegando que por mais que tenha sido um erro, um engano, o
sacrifício foi cumprido, uma vez que o amor se fez tão grande, que a própria
vida daria conta de toda essa imensidão. Não bastassem todas essas conclusões,
ele ainda deixa claro que engano foi, mas não um engano passível de ser
considerado um crime.
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
Recorrendo às características
pertinentes à era romântica, sobretudo àquela demarcada pela primeira geração,
cujo representante maior foi Gonçalves Dias, atente ao poema que segue,
analisando-o e destacando dele tais características:
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Resposta: O nacionalismo, tão cultuado pelo poeta em estudo, ressoava
marcas de uma nação recentemente liberta das amarras de Portugal, que por tanto
tempo se fez dominador nessas terras. Assim, traços ideológicos como esse tão
bem casavam com a situação, visto que as belezas aqui encontradas, sobretudo
aquelas condizentes aos aspectos naturais, à própria cultura propriamente dita,
levando em conta as origens, as raízes, representavam marcas aparentes e,
portanto, passíveis de serem exaltadas. Dessa forma, até mesmo no exílio, mais
especificamente em Portugal, o poeta não deixou de mencionar, nitidamente
demarcado pelo uso dos advérbios “cá” e “lá”, que aqui até o gorjeio das aves se
manifestava de forma diferente, já não falando das várzeas, dos bosques, do
céu, enfim.
Camila Menezes Maia